São Paulo não é apenas a maior
cidade brasileira – é a maior cidade lusófona, uma das maiores cidades do mundo.
A sua população excede a própria população portuguesa e isso, por si só,
impressiona: imaginar todo um país confinado a uma só cidade.
O primeiro impacto é pois,
como não poderia deixar de ser, violento, mesmo para quem está habituado ao
frenesim urbano.
O trânsito, em particular,
exige uma paciência mais do que infinita. Há uma espécie de guerra civil entre
automóveis e motociclos, com sucessivas provocações mútuas, e nem as mais
desesperadas formas de diminuir o trânsito (conforme o número da matrícula, há
dias em que não se pode circular, por exemplo) parecem ter efeito visível.
Subterraneamente, o metro lá
vai conseguindo fazer circular as pessoas, mas a rede ainda precisa de se
expandir muito mais. São Paulo é, também nesse plano, um excelente espelho do
país que é o Brasil: um país imenso, um país continental, que parece estar
ainda a meio caminho não se sabe ainda bem do quê.
Se há zonas de São Paulo que
impressionam pela sua sofisticação e requinte, outras há que ainda chocam pela
pobreza e mesmo pela miséria. O traço urbano é igualmente contrastante: há
ainda imensas zonas degradadas, lado a lado com áreas que fazem de São Paulo
uma das mais belas cidades do mundo, ainda que com um estilo algo indefinido.
Sente-se, por um lado, um certo mimetismo em relação às grandes metrópoles
norte-americanas, mas, por outro, alguma nostalgia da velha Europa.
Também nesse plano, São Paulo
reflecte bem a encruzilhada em que o Brasil se encontra, face às várias
possibilidades que se lhe deparam no plano geoestratégico – ou alinhar-se
preferencialmente com o gigante do Norte (leia-se: Estados Unidos da América),
ou circunscrever-se à América Latina, ou apostar mais numa ligação com Portugal
e os demais países lusófonos.
Como sempre, a melhor escolha
não será decerto uma escolha única, que implique a recusa de todas as outras.
Decerto, o Brasil terá que ter sempre relações privilegiadas com os restantes
países americanos, em particular com os países da América do Sul. Estamos,
porém, convictos de que isso não implicará uma menor aposta na ligação com
Portugal e os demais países lusófonos. Apesar do gigantismo do Brasil, que lhe
poderá dar a ilusão de uma auto-suficiência à escala global, os brasileiros
mais lúcidos sabem que, a essa escala, juntos seremos bem mais fortes.
A esse respeito, a tomada de
posse da Presidente reeleita, no primeiro dia deste ano de 2015, não terá sido
o melhor sinal. Dilma Rousseff, manifestamente, privilegia as relações com os
países vizinhos da América do Sul. O candidato derrotado, Aécio Neves, seria
decerto diferente, mas mais pela ligação aos Estados Unidos da América. Nenhum
dos dois me pareceu defender uma via realmente pró-lusófona. A outra candidata
derrotada, Marina Silva, teve um discurso mais auspicioso no que concerne à
aposta na CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas ainda sem
grande eco. Veremos o que acontecerá nas próximas eleições.
Post-Scriptum - 31 de Janeiro, no Ateneu Comercial do
Porto, às 17h: início de um Ciclo mensal de Conferências sobre o filósofo
Sampaio Bruno, no centenário do seu falecimento, coordenado pelo MIL-Norte.
Ver programa:
http://novaaguia.blogspot.pt/2014/12/em-2015-exaltacao-de-sampaio-bruno-no.html
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