Nunca se deve confundir o
“lado certo” com o sempre circunstancial “lado mais forte” da história. Não
sabemos se Durão Barroso faz ou não essa confusão, mas a verdade é que parece estar
sempre do “lado mais forte” da história – o que não é, necessariamente,
abonatório.
Tendo-se notabilizado nos
tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso) enquanto um dos pontas-de-lança
do esquerdismo então hegemónico, foi, à sua escala, co-responsável pela
descolonização exemplar(mente má), por via do mantra “nem mais um soldado para
África”, já para não falar do resto: desconstrução do nosso tecido económico,
desestabilização do nosso sistema de ensino, etc.
Logo após o 25 de Novembro,
está de novo no “lado mais forte” da história e virá a ser, nos anos oitenta e
noventa, uma das estrelas maiores do consulado cavaquista, em particular no que
este teve de pior: a nossa suicida subserviência à então Comunidade Económica
Europeia, em troca dos famosos “fundos”, entretanto esfumados.
Entre 2002 e 2004, foi
Primeiro-Ministro, não tendo deixado, nessa condição, nenhum legado memorável.
Notabilizou-se, no final desse seu mandato, por ter sido o anfitrião, nos
Açores, de uma célebre cimeira entre George Bush, Tony Blair e José Maria Aznar,
onde se caucionou a invasão do Iraque e a destituição de Saddam Hussein, com as
consequências que estão ainda hoje à vista: o autoproclamado “Estado Islâmico”
pode e deve ser visto ainda como uma resposta da minoria sunita a essa
destruição do Estado iraquiano.
Dito isto, depreende-se pois
que a nossa simpatia por Durão Barroso é pouca ou nenhuma. Ainda assim, não
alinhamos no coro condenatório do seu consulado enquanto Presidente da Comissão
Europeia (2004-2014), que tanto se tem feito ouvir na generalidade dos nossos
“media” nas últimas semanas. Não por uma qualquer razão paroquial – não somos
daqueles que, da esquerda à direita, têm bombardeado Durão Barroso por temor da
sua candidatura presidencial às Eleições de 2016.
O que nos move é o mais
elementar sentido de justiça, que nos leva a defender o seguinte: dificilmente
outra pessoa poderia ter deixado a União Europeia (UE) em melhor estado. Não
porque a UE esteja bem. Longe disso. Simplesmente, as razões que a levaram, na
última década, à sua cada vez mais evidente desagregação em pouco ou nada têm a
ver com a actuação de Durão Barroso. Se é verdade que os melhores políticos não
ficam reféns da sua circunstância, há limites para uma alteração substantiva da
circunstância – no caso, da circunstância europeia. O que afirmamos, em abono
de Durão Barroso, é que não teria sido possível fazer algo de muito diferente,
para melhor, do que ele fez.
A esse respeito, a habitual
comparação com o consulado de Jacques Delors não poderia ser mais desonesta.
Delors foi Presidente da Comissão Europeia numa circunstância por inteiro
diferente: de crescimento económico e, cumulativamente, de entusiasmo político
pelo projecto europeu, em particular na França e na Alemanha. Sugerir que
Delors teria tido força, nesta última década, para reverter o decrescimento
económico europeu (fruto, em grande medida, da globalização) e,
cumulativamente, do crescente eurocepticismo, é não perceber, nos dias de hoje,
qual o “lado mais forte” da história. Seja ele o “lado certo” ou não.
Post Scriptum: Entre 17 e
21 de Novembro, X Colóquio Tobias Barreto (ver programa: www.iflb.webnode.com)
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