É notícia e é
oficial. A Língua Portuguesa completa 800 anos (1214, testamento de Afonso II).
E, nestes dias de Junho de 2014, surge um Manifesto que junta nomes vários
da Lusofonia para assinalar o facto. Veio nos jornais, com pompa e circunstância.
«O deputado José Ribeiro e Castro é um dos promotores do manifesto, que reúne
"professores, autoridades, escritores, linguistas, cineastas, homens e
mulheres da cultura», era um dos títulos. Repetido ou "adaptado", em
quase todos os órgãos de comunicação.
É a História de
uma língua que tem os seus primórdios na Galiza, lá pelos séculos IX ou X; que
passa a galaico-português nos séculos XI e XII (ainda hoje há quem defenda que
o Galego e o Português são dialetos duma mesma língua); que se assume como
própria nesse texto de 1214.
Espalhou-se pelo
território português, deixando qpenas um pequeno espaço para o Mirandês (um
dialeto ásture-leonês). Ganhou cada vez mais consistência e firmeza. Depois dos
Séculos XV e XVI, ganhou projeção mundial. Hoje, tem mais de 240 milhões de
falantes, incluindo um gigante (o Brasil).
É língua mãe dos
mais desvairados sentimentos e aspirações. Língua culta e popular. Celebrá-la é
celebrar a forma de expressão de uma boa parte da humanidade.
Já a têm dado
como imprópria para alguns níveis de cultura. Alguns dos seus falantes preferem
outros idiomas em simpósios internacionais (e até, o que é pior, nacionais!).
Mas ela está aí. Evoluindo. Basta estar atento.
Mas... nem sempre
tem tido a atenção merecida. Veja-se o que sucede em Olivença. Sim, digo bem,
Olivença. Aquela terra esquecida, conotada, quase sempre por preconceito, com
as mais variadas orientações políticas, ou com aspirações fora de moda, de
esquerda ou de direita.
Na verdade, o
Português foi sendo falado na região, e foi maioritário até às décadas de 1960
e mesmo 1970. Na de 1980, começou a perder terreno. Alguns intelectuais, ao
longo dos séculos XIX e XX, preocuparam-se com tal, mas pouco conseguiram
fazer, mesmo porque poucos os escutavam.
Agora, a Língua
Portuguesa faz 800 anos. E refere-se a sua capacidade de resistência e de
adaptação. Mas (há sempre um "mas"), ninguém parece estr a dar-se
conta de um fenómeno curioso. Em Olivença, pois então!
Na verdade, desde
março de 2008, círculos oliventinos, autóctones mesmo, mobilizaram-se. E
começaram a lutar por uma língua e cultura que era a sua, e que resistia,
apesar de parecer estar em perigo. Nascia o "Além Guadiana". Que,
desde então, e evitando debruçar-se sobre problemáticas de soberania (que existem,
mas são pouco relevantes para o caso), tem lutado pela cultura e língua da sua
Região. Procura reafirmar-se como lusófono, e querer fazer parte desse espaço.
Em 2008, 2009, e
2010, promoveu espetáculos/encontros a que chamou "Lusofonias", para
os quais convidou intelectuais e órgãos de informação. Em 2011, a par de mais
um encontro, conseguiu que fossem repostos os antigos nomes portugueses em 74
ruas de Olivença. O que, pasme-se, foi pouco noticiado.
Atualmente, em
Olivença, têm surgido casos de pedidos de nacionalidade portuguesa, referidos
até na televisão portuguesa (22 e 24 de março de 2013). Sempre, sublinhe-se,
sem intenções políticas ou controvérsias sobre soberania. O "Além
Guadiana" pede apenas respeito e reconhecimento. Quer ajuda portuguesa
desinteressada, para tentar fazer Olivença aproximar-se da situação linguística
das décadas de 1950 e 1960.
A 30 de maio de
2014, a Associação "Além Guadiana" apresentou, no pátio do velho
castelo dionisino, o esboço de uma recolha de Português "oliventino".
Inúmeros populares, incentivados, usaram da palavra, em Português, e apelou-se
aos oliventinos em geral no sentido de usarem a sua língua no dia-a-dia. O
próprio "alcalde" interveio, apoiando. Infelizmente, muitos
convidados portugueses não apareceram, embora outros estivessem presentes.
Não é possível,
numa altura em que se celebram 800 anos de uma língua, ignorar este fenómeno de
recuperação do Português em Olivença. Quem persistir nesta atitude estará a ser
hipócrita. Ou a ser apenas "politicamente correto", o que, neste
caso, vai dar ao mesmo....
Estremoz, 14 de junho de 2014
CARLOS EDUARDO DA CRUZ LUNA
4 comentários:
Bem visto e bem lembrado por Carlos Luna.
Estou certo que todos os Lusófonos "de alma e coração" subscrevem este oportuno texto.
Abraço Lusófono.
Sugiro ouvir esta entrevista com Roberto Moreno, entrevistado por Luísa Janeirinho, no programa Museu do Mundo na rádio RDP em 2010 - https://www.youtube.com/watch?v=g43iGYQTglo&feature=relmfu
8 Séculos de Língua Portuguesa
A quem possa interessar comunica-se que o tema – 8 Séculos de Língua Portuguesa – e, eventos relacionados com esta temática, deve-se graças à descoberta de Roberto Moreno, fundador e presidente da Fundação Geolíngua. – Em 2009, esta OBRA, onde se descreve uma série de atividades programadas para vários anos, está registrada na SPA – Sociedade Portuguesa de Autores, e desde então, 2009, Roberto Moreno tem se empenhado em divulgar e solicitar o apoio institucional à vários órgãos governamentais dos 8 países da CPLP e à Sociedade Civil. – Por exemplo, à Presidência da República de Portugal, à CPLP, ao Instituto Camões, à Secretaria da Cultura de Portugal e Brasil, à UCCLA, ao CNC – Centro Nacional de Cultura de Portugal, à própria SPA (acima citada) – entre outras dezenas de entidades. – Portanto, foi Roberto Moreno, que associou o Testamento de D. Afonso II, com data de 27-6-1214, e fez uma alusão à 27-6-2014, primeiro intervalo da Copa do Mundo do Brasil, avisando o MUNDO que, afinal a Língua Portuguesa possui 8 Séculos. – E, salienta – porque não comemora-la, neste âmbito?
Eu não devo ser um «Lusófono "de alma e coração"» porque não subscrevo este «oportuno texto» - não pelo conteúdo mas sim pela forma, que põe em causa aquele: de facto, ao estar redigido no infame «acordês» - não faltam, entre outras, «palavras» ridículas como «correto», «dialeto» e até «espetáculo» - como que subscreve uma outra, nova, «ocupação de Olivença» - algo de ilegítimo que impede a afirmação e a dignidade de uma dada comunidade. Defender e utilizar o AO90 é como que estar do lado de Madrid, de Castela.
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