A
ligação com o mar começa por ser um factor geográfico comum a todos os países
de língua portuguesa, mas, como acontece com alguns “factores geográficos”,
está muito para além disso. Com efeito, a forma como estamos no mundo, a forma
como somos, sentimos e pensamos, não é apenas afectada pelo factor tempo –
apesar deste ser o mais óbvio –, mas, igualmente, pelo factor espaço. Já foi
muitas vezes referida, por exemplo, a influência da experiência espacial do
deserto no pensamento árabe, em particular no que este tem de mais espiritual.
Partindo
desse factor geográfico – de a ligação ao mar ser comum a todos os países de
língua portuguesa –, procurámos, pois, neste número da NOVA ÁGUIA, pensar a
ligação entre o mar e a Lusofonia, sugestivamente já referida por Vergílio
Ferreira, quando escreveu: “Da minha língua vê-se o mar”. Em que medida o mar
emerge na nossa língua, na forma como estamos no mundo, na forma como somos,
sentimos e pensamos, eis, pois, em suma, o repto que lançámos aos nossos
colaboradores, também eles unidos pelo mar por esse mundo fora.
Uma
vez mais, como sempre tem acontecido, teve esse repto ampla resposta.
Publicamos aqui cerca de duas dezenas de textos que, por diversas vias, têm em
vista esse horizonte. De resto, já em números anteriores o havíamos assinalado,
ainda que de forma subliminar. O nosso pensamento parece-nos ter, com efeito,
essa marca “marítima” – daí o seu anti-cousismo,
o seu anti-substancialismo, nalguns
autores particularmente evidente (apenas para dar um exemplo, refira-se o
conceito de “insubstancial substante”, de José Marinho), em contraponto com os
pensamentos mais “continentais”, mais ligados à terra, ou seja, à fixidez e às
fronteiras – e, por isso, menos propensos à mistura e à mestiçagem, marca maior
da Lusofonia.
Como
sempre tem acontecido, não se esgota este número na abordagem da temática
central. Assim, publicamos ainda alguns textos sobre Leonardo Coimbra, esse
pensador anti-cousista por excelência,
por nós homenageado no número anterior, por ocasião dos 100 anos da publicação
da sua obra O Criacionismo. A par de
Leonardo Coimbra, evocamos uma série de outros autores: de Agostinho da Silva,
o grande pensador, entre nós, da Lusofonia, até Teixeira de Pascoaes, o poeta
maior da “Renascença Portuguesa” (cujo centenário celebrámos em 2012), passando,
entre outros, por Fernando Pessoa, Jaime Cortesão e João de Deus.
Isto
para além das secções já clássicas: “Outros Voos”, com a habitual colaboração
de Adriano Moreira; “Rubricas”, desde o nº 9 da NOVA ÁGUIA reforçadas com as “Cartas
sem resposta” de João Bigotte Chorão; “Bibliáguio”, onde destacamos, a fechar,
a justa homenagem que é feita, por António Cândido Franco, ao poeta Couto
Viana; “Noticiáguio”, onde, desde logo, evocamos os recém-falecidos Manuel Luciano
da Silva e Elsa Rodrigues dos Santos, para além de publicitarmos o Programa do
I Congresso da Cidadania Lusófona, onde estaremos presentes; sem esquecer o
“Poemáguio”, onde, como sempre tem acontecido desde o primeiro número da
Revista, publicamos uma série de poemas – destaque-se, neste número, a
publicação de um poema de António Telmo, bem como um poema de homenagem a
Manuel António Pina.
Como
também tem sempre acontecido, ficaram muitos textos por publicar – desde logo,
o já aqui anunciado dossiê sobre o poeta Ramos Rosa. Procuraremos publicá-lo no
próximo número da revista, onde a figura em destaque será António Quadros, por
ocasião dos 20 anos da sua morte, a par de outros autores que evocaremos,
nomeadamente: Orlando Vitorino e Eduardo Abranches de Soveral (ambos falecidos há
10 anos), Heraldo Barbuy (nos 100 anos do seu nascimento, em São Paulo) e
Silvestre Pinheiro Ferreira (nos 200 anos do início das suas famosas Prelecções Filosóficas no Real Colégio de
S. Joaquim, no Rio de Janeiro). Em 2013, a NOVA ÁGUIA manterá, assim, o seu voo
cada vez mais ascendente e “marítimo”, não fosse o mar, precisamente, nas
lapidares palavras de António Quadros, “a imagem eterna do caminho”.
1 comentário:
E, dos meus térreos vinte e três anos de existência, a NOVA ÁGUIA assume cada vez mais a ascendência do meu voo.
Obrigado!
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