O Filósofo em Meditação, Rembrandt, 1632
Vigésimo Quarto Fragmento
188 - Os nossos comentadores políticos e os nossos políticos agem como se nunca houvessem passado da infância. Discursam como se os seus intelectos não fossem capazes de compreender dois pontos de vista separados e opostos, em simultâneo. No que toca o reino da alma não tivemos Reforma ou Renascença; não houve Colombo a descobrir cada quadrante dos oceanos da alma que em nós se esconde.
189 - Somos possuidores de um território interior em que os nossos sonhos vagueiam de noite.
190 - No mundo real as nações e os reinos marcam-se em mapas por via de barreiras naturais, como montanhas, rios, e oceanos. Também a história desenha as regiões nacionais. Existem batalhas vencidas e perdidas, negociações, terras compradas ou vendidas, casamentos que decidem em que destino as bandeiras voam.
191 - O mesmo se passa com as nossas almas. Determinados medos e horrores são declarados estrangeiros. O católico não se transforma no corvo ou no veado enquanto sonha, também não se movimenta no bosque nocturno em exaltação e ausência de receio.
192 - De vez em quando, despertamos no interior do sonho e seguimos ainda a sequência rotineira, excepto que estranhamos um interruptor não fazer reagir a lâmpada, ou a sombra da estranheza no movimento das coisas. Sentimos que não pertencemos. Para o filósofo, pessoalmente, a vida ocorre neste estado.
193 - Por vezes, um homem tropeça numa terra de ninguém entre o sono, o sonho e o estado de vigília. A mente desperta mas o corpo dorme ainda. O indivíduo sente-se desesperado. O cérebro comete o pânico e imagina toda uma gama de monstros e horrores a atraiçoa-lo numa armadilha. Todavia, nem monstros nem armadilhas, apenas a nossa imaginação procura desesperadamente uma imagem para explicar o nosso medo irracional. Este é, no geral, o estado dos nossos políticos.
André Consciência
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