1. Os portugueses não gostam, em geral, de ataques pessoais. Aqueles que, ao longo da campanha presidencial, foram sendo movidos a Cavaco Silva, por mais justificados que fossem, acabaram por beneficiá-lo. Também nesse aspecto, Fernando Nobre agiu bem, ao não ter seguido esse caminho, preferindo manter-se no mero debate de ideias e propostas.
2. Ainda não foi desta que um Presidente que se recandidata não vence, mas a margem foi a mais curta de sempre. Já para não falar na crescente abstenção, mais de 50%, e dos votos nulos e brancos. Tudo somado, a “maioria” que elegeu Cavaco Silva esvai-se para menos de um quarto dos eleitores inscritos.
3. Conforme era previsível, Manuel Alegre teve um resultado desastroso: a aliança Partido Socialista-Bloco de Esquerda sempre foi contra-natura e bloqueou por inteiro a sua campanha. Não se pode ser simultaneamente a favor e contra este Governo.
4. Dos candidatos pequenos: Francisco Lopes limitou-se a segurar o eleitorado comunista (manifestamente, foi para isso que o escolheram); Defensor Moura não foi sequer o candidato de Viana do Castelo (as bandeiras nacionais que escolheu – regionalização e defesa dos direitos dos animas – não tiveram eco): José Manuel Coelho conseguiu transpor a fronteira madeirense, mas à custa do crescente cinismo nacional (quem votou nele, fê-lo enquanto candidato de protesto e até de ridicularização do regime).
5. Resta Fernando Nobre. Depois de uma campanha algo acidentada, dados os poucos recursos e a ausência de uma estrutura logística (apenas disfarçada pela infinita generosidade de muitos voluntários), com um crescente desinteresse por parte dos “media”, que se foi reflectindo em sondagens cada vez menos optimistas (excepto na recta final da campanha, onde se deu uma clara viragem), é caso para dizer que o seu resultado acaba por ser extraordinário (poderia até, expectavelmente, ser maior, caso a campanha durasse mais uma semana ou duas). Em parte, o resultado foi sendo prenunciado nas ruas, dado o afecto da população em geral pela sua pessoa: manifestamente, muitos terão votado nele por ser um “homem bom”. Mas também, senão sobretudo, pelo seu perfil independente, trans-partidário. Isto para além dos seus já famosos “desígnios nacionais” – nomeadamente, falo por mim, o da “lusofonia global e dinâmica”. Chegados aqui, contudo, uma pergunta se impõe: e agora, Fernando Nobre? Decerto, poderá fazer uma nova tentativa daqui a cinco anos. Mas, para isso, tem que manter uma presença cívica e política, suportada nalguma estrutura, não necessariamente partidária. Caso contrário, estes quase quinze por cento esvair-se-ão…
P.S.: Daí a necessária via por cumprir: um projecto cívico e político, de cariz trans-partidário, que difunda os seus desígnios nacionais.
3 comentários:
Pelo menos Cavaco já anda a falar em Lusofonia e em maior intervenção. Pode ser que tenha aprendido alguma coisa. Isso passou despercebido a muita gente, mas é real...
Por acaso reparei nisso. Foi das (muito) poucas vezes em que se pronunciou o termo "lusofonia" nesta campanha...
As Presidenciais foram ganhas por Cavaco Silva, logo todos os outros candidatos perderam, esta é uma realidade que não parece ser acolhida pela maior parte dos derrotados neste País, em Eleições ninguém perde, portanto ninguém ganha, falta por aqui um novo Eça que em situações destas não escondia os fieis carneiros e seguidores de uma sociedade corrupta.
Fica o reconhecimento de um movimento de CIDADANIA, que se levantou em volta de um candidato, este movimento não deve ser perdido, pela transparência do seu voluntariado e pelas causas que o uniram, fica portanto em aberto a sua continuidade queira ou não queira o seu primeiro cidadão Dr. Fernando Nobre.
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