Tirou o Curso na Escola do Conservatório em Lisboa com um excelente aproveitamento confirmando os seus dotes musicais, o que o levará a partir para a Alemanha onde irá estudar piano com Scharwenka e com Franz Liszt e a adquirir uma forte admiração pelas obras de Richard Wagner. Em 1893 toca de forma exuberante em Lisboa e o retumbante sucesso público que alcança leva o rei D. Carlos I a atribuir-lhe o título de Comendador de Sant’ Iago da Espada.
No início do século XX fez diversas digressões internacionais com músicos afamados, que lhe aumentou o prestígio, tocando designadamente com Enesco, Pablo Casals ou Guilhermina Suggia. Neste período entre o crescente reconhecimento nacional e internacional irá criar as suas principais obras musicais. De entre estas avulta a Sinfonia “À Pátria” (1895), no rescaldo da exacerbação nacionalista resultante do Ultimato inglês de 1890 e das Campanhas de África (1895), considerada a sua obra-prima, intensamente marcada pela corrente do Romantismo de matriz nacionalista, em que evoca a obra Camoniana d’ “Os Lusíadas” e se inspira no modelo sinfónico de Beethoven. Esta atmosfera criativa, que radica neste contexto cultural, fê-lo inspirar-se em muitas das suas canções com piano em poemas nacionais de João de Deus, de Guerra Junqueiro, de Almeida Garrett, de Luís Vaz de Camões, etc.
Quando é apanhado a desenvolver o seu trabalho na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial, exila-se na Suíça onde dirigiu o Conservatório de Genebra. Com o fim do conflito bélico, acaba por regressar a Portugal, abandonando grande parte da sua produção musical possivelmente por não se identificar com as correntes Modernistas que varriam a Europa, tornando-se maestro da Orquestra Sinfónica de Lisboa e no mesmo ano Director do Conservatório Nacional que ocupará até 1938.
Um outro momento de glória, da sua carreira musical, aconteceu nas celebrações do Centenário da morte de Beethoven, em Viena de Áustria no ano de 1927, com as suas virtuosas interpretações de piano das Sonatas de Beethoven que foram aclamadas pelo exigente público Vienense e pela crítica internacional. Levado por este êxito instituiu no Conservatório Nacional o Prémio “Beethoven” cujas receitas revertiam para os alunos mais carenciados da escola. A comunidade internacional considerou-o de forma definitiva como um sublime interprete das composições de Liszt, de Bach e de Beethoven.
O seu trabalho em prol da Cultura manifestou-se, também, nas reformas que implementou no ensino da música, em termos de programas e de métodos pedagógicos, em parceria com o compositor Luís de Freitas Branco em 1919, como Director do Conservatório de Lisboa. Teve uma invulgar erudição que o fez escrever no fim da sua vida alguns livros sobre música ou sobre as suas fontes de inspiração, ao mesmo tempo que exerceu o seu magistério de crítica musical em múltiplas revistas e jornais nacionais e estrangeiros.
Contam-se como seus discípulos mais proeminentes o pianista José Sequeira Costa e o compositor Fernando Lopes Graça, que no ano seguinte ao seu desaparecimento escreveu sobre Vianna da Motta um texto em que destilou o seu imenso fascínio. Faleceu em 1948 na companhia da sua filha Inês Vianna da Motta e do seu genro psiquiatra Henrique Barahona Fernandes.
Nuno Sotto Mayor Ferrão
Publicado originalmente, com excertos musicais adicionais e notas acrescidas, no blogue Crónicas do Professor Ferrão
1 comentário:
Bem lembrado
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