O futuro que se avizinha para Portugal e para o nosso povo - para a esmagadora maioria do nosso povo - é, além de muito triste, dramático, a todos os níveis: económico, social, cultural, político e educacional. Os horizontes são muito negros e só não vê quem não quer. Dado o estado da economia e suas perspectivas e face às medidas que se vão anunciando, de forma mais ou menos disfarçada, vão ser, uma vez mais, os pobres e os chamados remediados, a arcar com o peso das medidas que se perfilam. Será este cenário inevitável ou fatal? Creio que não. Mas, para isso, é necessário que os cidadãos, a começar pelos mais comprometidos com o país e a sua História e, sobretudo, com o seu povo, se mobilizem.
No imediato, e para acudir às necessidades mais urgentes e graves, torna-se indispensável que nos envolvamos nos movimentos mais ou menos organizados de solidariedade social, como serão os casos do Banco Alimentar e as organizações ligadas à Igreja Católica. Julgo ser esse o nosso dever para os tempos mais próximos.
Porém, há que olhar mais além. Portugal tem urgentemente de mudar a fundo e de forma duradoura. Para isso, importa, a meu ver, intervir ao nível do espaço público, tomando a palavra, que é o instrumento mais valioso da práxis da interacção.O exercício da palavra é a mais eminente forma de intervenção cívica e política. Julgo que chegou a hora de tomar a palavra. Para criticar e para propor, para criar. Sim, urge um amplo movimento, sustentado e inspirado na nossa História, nas coordenadas do nosso viver colectivo mais profundo, que se inspira no humanismo da primeira metade de quinhentos, de criatividade. E a ocasião propícia para essa intervenção cívica e política são duas: as eleições presidenciais que se avizinham e a anunciada Revisão Constitucional. É preciso não esquecer que a Revisão da Constituição vai tocar em pontos essenciais que irão condicionar o nosso futuro nos anos mais próximos. Por isso, é preciso que, enquanto cidadãos livres e amantes da nossa Pátria, nos preparemos para tomar a palavra.
Selecciono, desde já, três áreas fundamentais onde aquela revisão vai tocar: o modelo de Estado e a sua reforma; o Estado Social e a organização e filosofia do Trabalho.
Outros temas ou áreas poderão ser seleccionadas, mas as que acabei de enunciar são incontornáveis e já deu para perceber que a classe política, nas suas várias facções, as vai atacar a fundo. Da parte do MIL - enquanto movimento cívico e cultural e na linha até da Renascença Portuguesa e da Revista Águia, onde pontificaram, entre outros, Teixeira de Pascoaes (este com posições sócio-políticas e até económicas que hoje classificaríamos de proféticas) - penso que se impõe, repito, enquanto movimento cívico e cultural, mas com forte compromisso com Portugal e a Lusofonia, penso que se impõem tomadas de posição nestas matérias.
António Rodrigues de Assunção
1 comentário:
Quanto às eleições presidenciais, o MIL, como é público e notório, tomou posição, apoiando o candidato que nos parece ter uma agenda mais pró-lusófona: Fernando Nobre.
Quanto à revisão constitucional, talvez venhamos a tomar posição - mas isso só quando a revisão constitucional deixar de ser um mero jogo de sombras dos dois nosso maiores partidos. Se isso vier a acontecer...
Quanto ao mais, não duvide do(s) nosso(s) compromisso(s). O nosso passado é já garantia suficiente da nossa acção no futuro...
Abraço MIL
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