A África do Sul conseguiu um grande trunfo para a humanidade, ao colocar os holofotes do mundo, no Continente Negro.
Foi lá que Bartolomeu Dias abriu o Portal da história, para dar partida à unificação do mundo, do Oriente ao Ocidente, quando passou o Cabo das Tormentas, (1488), depois chamado Cabo da Boa Esperança. O fato paradigmático foi perpetuado em granito, para a eternidade, nos Lusíadas de Camões e em estátua, na Cidade do Cabo, perto de Johannesburgo.
Penso que esta geração não pode passar, sem que a África seja reconhecida como um Continente magnífico, por sua cultura, por sua gente e pela produtividade e beleza do seu território e de seu povo.
Então o Continente Africano será reconhecido e honrado, ao lado da Europa, das Américas, da Ásia e da Oceania, em pé de igualdade.
A África é um Continente belo e promissor. Um Continente encantador, que eu ainda não tive o prazer de conhecer (Vontade não faltou).
2. O mundo Ocidental precisa reconhecer que o Continente Africano merece todo o respeito, não por favor mas por direito. Que os países da África não podem ser tratados como simples fornecedores de minerais preciosos, de terras férteis, de mão-de-obra e de espaço de manobra para as grandes potências. Deve ser considerado como grande parceiro.
Atrocidades gratuitas como as que capitaneou o Rei Leopoldo, da Bélgica, são holocaustos repugnantes. Como são repugnantes os holocaustos comandados, por chefes africanos, dizimando tribos mais frágeis em forças, de que os Anais da História registraram com horror. O passado passou. Vamos construir o futuro,já, sem ressentimentos, decididamente.
3. No Brasil, os portugueses, com os africanos, criaram um país multirracial e miscigenado. Aqui, negros e brancos, convivem em paz, tal qual os brancos entre si, onde não faltam rusgas eventuais, naturais entre os humanos: entre brancos e brancos, negros e negros, entre brancos e negros e entre negros e brancos... caminha a humanidade...
Mas existe aqui um espaço muito mais amplo e alvissareiro de solidariedade, fraternidade e generosidade, de parte a parte, sem radicalizações autoritárias.
Aqui, brancos e negros se cruzaram, dando origem uma quinta cor na espécie humana: a cor morena, como dizia Darcy Ribeiro.
Hoje temos, no mundo, cinco “raças”: brancos, negros, morenos, amarelos e vermelhos.
O moreno tem uma cor definida de que deve poder se orgulhar, e assim deve ser classificado. Ele não é branco, nem é negro. É moreno com muita honra.
Moreno com muita honra.
O mundo moreno é marca da Lusofonia.
No tempo da colonização, os morenos, descendentes de brancos com negros, eram considerados brancos.
A pessoa que tinha qualquer porcentagem de sangue branco era, diante da lei, considerada branca. Esta era a norma, geralmente respeitada.
Por esse modo de ver, considerando o negro a par do branco, tivemos um dos maiores gênios de pensamento de todos os tempos, no século XVII, o Pe. Antônio Vieira, neto de negra. Vieira foi e sempre será um gênio moreno que espantou o mundo do século XVII com seus talentos e com sua sabedoria, de Salvador à Lisboa, Roma, Paris, Londres, Amsterdã, etc, etc.
No século XVII, o mesmo P. Vieira declarava, em Cabo Verde, que os padres negros eram melhores e mais dedicados do que muitos dos padres portugueses do Reino.
4. O Brasil desenvolveu um país multirracial, numa convivência muito positiva de que só pode se orgulhar, assim decantado por Gilberto Freyre, grande admirador da África, dos africanos e dos moremos, fruto da auspiciosa miscigenação.
Os laços Brasil-África sempre foram muito intensos e positivos.
Eram tais os laços que uniam Brasil, Portugal e a África que, ainda no século XVI, estando Angola invadida pela Holanda, como esteve todo o Nordeste Brasileiro, deu-se um fato emblemático. Depois que expulsaram os holandeses do Brasil, portugueses, negros, índios, após reequiparem a frota, saindo do Recife, atravessaram o Atlântico, e foram a Angola expulsar os holandeses, invasores, para que Angola ficasse livre. Cumpriram a missão com sucesso e muita audácia.
Foram os Africanos, juntamente com os portugueses, quem mais fez pelo desenvolvimento do Brasil, nos três primeiros séculos. Desenvolveram o Brasil a ponto de ter condições de se tornar cabeça de um grande Império, com a vinda de D. João VI, que aqui instalou o poder central do Império Português, em 1808, há duzentos (200) anos.
A África tem uma presença inapagável e bela na história do Brasil e de Portugal.
5. A obra de civilização, com os laços multirraciais e miscigenados, marcou a ação portuguesa, nos cinco continentes.
Na África e na América do Sul está a grande força da Lusofonia.
Dos oito países, de raiz e fala lusófona, cinco estão na África: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe.
A Lusofonia a todos reúne a cada momento, através da língua comum.
A África faz parte de nós e nós fazemos parte da África. Somos continentes e países irmãos. A Lusofonia nos une e nos irmana.
No Brasil convivem e trabalham, em paz, pessoas de todos os povos da terra.
Irmãos de sangue, de cultura e de trabalho.
6. Na Copa do Mundo, na África do Sul, estarão torcendo por Portugal e pelo Brasil as cinco (5) nações Lusófonas e muitas outras nações onde vivem milhões de portugueses e lusodescendentes, por toda a África. Torceremos uns pelos outros.
As bandeiras do Brasil e de Portugal estarão hasteadas em muitos lares, por todo o globo. Em muitos lares e em milhões de corações estarão desfraldadas as bandeiras da Lusofonia.
A África orgulha-se da Lusofonia e a Lusofonia orgulha-se da África.
7. A África tem tudo para ser um Continente de primeira linha, na história do mundo. Mas precisa saber implantar um processo de desenvolvimento que pense na prosperidade econômica, sem se descuidar da qualidade de vida das pessoas, da educação do povo e da preservação do meio ambiente sadio.
Lá onde erraram os países, que fizeram o desenvolvimento atual, a qualquer preço, por adotarem o capitalismo selvagem, a África pode usar a lição para não repetir os erros evitáveis. Assim, poderá aproveitar o que de melhor lhe oferece o modelo de desenvolvimento atual, tanto no Ocidente como no Oriente. Poderá então evitar tudo o que compromete o futuro de seu povo e da humanidade.
Sabemos que não se faz um omelete sem quebrar alguns ovos, mas também sabemos que, se quebrarmos todos os ovos, não termos mais galinhas para continuar a botá-los. Não podemos matar a “galinha dos ovos de ouro”.
Apesar de todos os desvios conhecidos, apesar da escravidão, o Brasil e Portugal são exemplos de respeito à África e aos africanos. São parceiros leais, com alguns malandros como contrapeso...
Os desvios foram questões de percurso que já foram superados. Olhamos para frente...
8. O nosso povo brasileiro, branco ou moreno ou negro, amarelo ou vermelho precisa redescobrir a África, que convive em nosso meio. Aliás, já estão descobrindo. Somos povos entrelaçados, pelo sangue, pela cultura e pelo destino.
Brancos, negros, amarelos ou vermelhos somos uma cultura miscigenada.
Somos todos, culturalmente morenos, como brancos e negros.
Brancos, negros, morenos, amarelos ou vermelhos, vivemos todos com respeito e liberdade, neste país. Esta é a norma do país. Desvios de discriminações também existem. São as falhas da condição humana.
9. O que nos falta aos lusófonos, é uma cultura mais consistente, universalista e local, para sermos um povo mais consciente, competente e atuante. Para nos sabermos impor, no contexto das nações.
Sem uma educação melhor, sempre seremos vítimas de um pensamento frágil, volúvel e trivial. Não sabemos o que somos ou quem somos e quanto podemos.
Somos uma potência que se desconhece. Por isso nem sempre somos livres e soberanos. Não alcançamos todos os resultados que poderíamos desfrutar, no contexto das nações.
Somos vítimas dos fabricantes de armas que compramos para matarmos mutuamente...
A cultura de nosso lado africano, no Brasil, articulado com o nosso lado europeu, indígena e asiático, respeitando as dimensões de cada uma das nossas heranças étnicas e culturais, faz parte do processo de conquista de um mundo melhor para o nosso povo. Elevar à cultura e o bem-estar do nosso povo é elevar a humanidade.
O grande elo que une fortemente os povos lusófonos é a Língua Portuguesa.
Na Língua Portuguesa, a gente se entende. Nela nos encontramos e interagimos.
Os laços que unem Africanos, Brasileiros, Portugueses, Asiáticos e Oceânicos de Língua Portuguesa são sólidos; são culturais, familiares e muito mais fortes do que os laços econômicos e políticos, que são apenas estratégicos e sempre se fazem presentes.
A Copa do Mundo de 2010 deu a voz e a vez à África, em boa hora.
10. Certamente Angola e Moçambique, com o grande progresso sócio-cultural e econômico que já desponta, estarão se preparando para sediar uma das próximas Copas, quando for de novo a vez da África.
Daqui de meu escritório, em São Paulo-Brasil, a maior cidade do Ocidente, a maior cidade Lusófona do mundo, saúdo efusivamente todos, os Africanos de todos os quadrantes, com destaque mais carinhoso para os povos africanos lusófonos, com os quais compartilho o mesmo sangue linguístico e a mesma fé num futuro mais promissor.
Na Lusofonia somos irmãos, sem distinção de cultura ou de cor.
A Lusofonia nos faz universais nos cinco continentes.
José Jorge Peralta
1 comentário:
Ótimo texto!Parabéns!!!
A cultura e o amor não tem cor.
Um abraço.
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