Ecologia..., Luís Silva, 2009
Décimo Oitavo Fragmento
142 - Para afinar a Lira, o Bardo tem primeiro de pensar como a Lira. Ao observar o que o rodeia (o que o rodeia são as notícias), deve, jamais, indignar-se. O seu trabalho é o de descodificar a linguagem que testemunha, como quem descodifica a linguagem de um pensador a meio de um ensaio. Deve estudar o mundo como quem estuda uma ficção.
143 - Deve suspeitar dos movimentos cívicos e das ideias diferentes de política, na medida em que todos eles só podem resultar em novos aliados da estagnação em voga.
144 - Por exemplo, tem-se falado, de quando a quando, da produção e da mão-de-obra, da taxa de emprego ou de desemprego. A necessidade de produção pode ser maioritariamente satisfeita pelas maquinarias. Assim, não falamos tanto de uma necessidade económica de produzir, mas de uma necessidade política de manter a ordem do trabalho, tanto como de manter o povo ocupado. Conforme as formas de emprego tradicionais se extinguem, criam-se novos empregos, ou melhor, muitas vezes se passa a salariar aquilo que antes se fazia naturalmente. O verdadeiro inimigo não será, mais tarde, a falta de emprego, mas a existência de emprego.
145 - Tal como a Igreja Católica sacrificou a sua religião de forma a sobreviver como estrutura, e o patriarcado sacrificou-se para perpetuar a sua forma no feminismo, a sociedade desintegrada sobreviveu através de uma larga produção de entretenimento. Assim, a sociedade é um espectáculo irreal, como a religião, como o feminismo. O valor, a virtude, também ele, rendeu o seu conteúdo à forma, e criou o relativismo. Também a liberdade morreu e a sua estrutura, sem vida que a animasse, tornou-se segurança: uma sombra com dois rostos, o banqueiro que se enforca e o vagabundo que morre ao frio.
146 - O sistema económico (que não está em crise mas a é), que hoje tanto alerta alguns, viverá uma vida curta. Ele será brevemente substituído por um sistema ecológico, um fascismo baseado no bem-estar, na saúde e na natureza, uma ditadura que possivelmente começará no fanatismo (ligado ao medo de um colapso ecológico) das nossas próprias disciplinas. O Ocidente, inteiro, posiciona-se à direita económica (liberalista) e a seguir autoritária, a sua rota é a aqui descrita. Aquele que alertar para a diminuição do consumo para a propagação do consumo, que indique que o povo se controle, para que possa controlar, é não outro, mas o mesmo devastador perante um rebanho assustado.
147 - No sistema ecológico, o niilismo deixará de ter lugar, o capital fará o papel da moral (nesse sentido, é uma espécie de crescimento negativo económico contemporâneo, enquanto o crescimento económico – positivo -, por sua vez, ocupa o lugar de ciência).
148 - A conquista do oriente pelo ocidente consiste no alargamento da rede cibernética. O Ocidente criou a Máquina de Guerra assim. É necessário, além disso, que se reformule o sistema, o trabalho deve ser o trabalho sobre o próprio trabalhador, o consumo deve ser o consumo de relações, a produção, como afiguraram alguns situacionistas, a produção de situações. Esta bio-economia permite um controlo total sobre as massas. A Máquina de Guerra e o Império como um: O Império Invisível.
André Consciência
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