The King Goes Naked, Paulo Madeira, 2005
Décimo Fragmento
62 - A sombria nuvem humana serve o relâmpago. Assim como o primordial fogo grego sempre existiu, e há-de existir, o super-homem não é mais uma profecia do que um relato do passado e do presente.
63 - O relâmpago serve o simples alívio das tensões da sombria nuvem humana.
64 - O super-homem, como a arte, a anti-arte, esta lira, e todos os meios de denúncia ao sistema, à alienação, a todas as coisas aparentemente condenáveis, servem essa mesma roldana com a função descompressora (são também necessárias as nossas notas para que esta melodia se propague). Esta é a função, também, de toda e qualquer contra-cultura. A minha lira é mais perversa do que a simples aderência ao consumo. A minha lira mistifica o consumo e dá-lhe um significado central em todas as questões. Que ninguém me pague por ela, mostra no músico a crença dos mártires na sua instituição. A sociedade é o próprio mito da sociedade.
65 - A esse propósito, observem-se também as férias, que, enquanto são uma parte menor do tempo de trabalho, não permitem que o tempo livre se liberte e abandone a condição de propriedade exclusiva de quem o concede. Libertam apenas tensão suficiente para impedir uma revolta prisional.
66 - A contra-cultura (?), pode contra-argumentar o leitor, conseguiu alguns feitos. São feitos sem efeitos. Por exemplo, a Igreja perdeu o seu fascínio. Mas observe-se os ginásios, onde se cultua com uma igual variedade de rituais e disciplinas ascéticas. Como segundo exemplo, profundamente ligado ao primeiro, a sexualidade deixou, quase, de possuir tabu. Por isso substituiu-se o tabu pelo design, uma outra forma de evitar (abstrair) o único agente que (nos) é realmente rebelde e capacitado.
André Consciência
3 comentários:
Olha, o Cyrano de Bergerac! LOL
(A exaltar o Dia da Mulher, e, sem dúvida, contribuirá para o aumento das visitas ao blogue JAJAJAJAJA!!!)
O Agostinho teria gostado de te conhecer. E de ler este texto.
Abraço!
No sentido mais rigoroso da expressão, neste blog a arte é um caso à parte.
Abraço, André.
e a filoso fia mais fino.
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