Há dias, um amigo convidou-me a aderir, no Facebook, a uma organização que se opõe à utilização dos OGM.
Confesso que não identifiquei logo a sigla. Quando o fiz, dispus-me a reflectir sobre o assunto.
A questão não é recente. Os OGM entraram já nas nossas despensas, nos nossos frigoríficos e em alguns dos medicamentos que tomamos. A engenharia genética está a expandir-se e a controvérsia tornou-se inevitável.
Os pessimistas consideram que se está a abrir uma caixa de Pandora que irá soltar no mundo uma imensidão de monstros desconhecidos e talvez incontroláveis. Os genes alterados poderão induzir perturbações de dimensão e de alcance impossíveis de calcular.
Os optimistas acham que se vai tornar possível erradicar doenças hereditárias como a Trissomia 21 (mongolismo) e algumas formas de hemofilia, para referir apenas duas das patologias genéticas mais conhecidas. O combate à malária irá dispor de armas novas. Poderão criar-se castas de videiras capazes de resistir a doenças comparáveis à filoxera, que devastou as vinhas europeias no séc. XIX, ou tornar as batatas imunes a pragas do tipo da que espalhou a fome na Irlanda a partir de 1840.
Estamos a assistir à alvorada de uma tecnologia que irá permitir, eventualmente, recuperar espécies animais e vegetais extintas. Provavelmente, o Parque Jurássico, dentro de algumas dezenas de anos, deixará de ser ficção científica. No limite, Orfeu poderia conseguir uma Eurídice igualzinha sem ter de se aventurar no Inferno.
Nenhum governo e nenhuma organização serão capazes de se opor ao desenvolvimento de uma tecnologia tão prometedora. Diga-se o que se disser, pense-se o que se pensar, os estudos genéticos irão prosseguir e as suas aplicações práticas conhecerão um âmbito cada vez mais alargado. Não se levantam barreiras ao progresso erguendo bandeiras e fazendo tocar os sinos a rebate. Seria precisa uma nova Inquisição.
A genética vai continuar a desenvolver-se. Põem-se questões até há pouco desconhecidas. Poderá vir a ser possível criar, em laboratório, raças humanas superiores. Aberrações assim terão de ser proscritas. De outro modo, quem não pudesse pagar a tecnologia veria os seus filhos transformados em cidadãos de segunda ou de terceira classe. A Ética irá comportar novos capítulos que mal começaram a ser escritos. As legislações hão-de tornar-se ecos dela. As Tábuas da Lei de Moisés não podiam conter mandamentos contra pecados que as técnicas de então não tinham ainda permitido imaginar.
É indispensável criar regras novas e assegurar mecanismos eficazes para as executar.
Os riscos da introdução de organismos geneticamente modificados na alimentação humana e animal não podem ser negligenciados. Devem ser objecto de atenta monotorização, a cargo de organizações independentes das associações de produtores.
É sobre a vigilância, a transparência, a regulamentação e a aplicação de padrões humanistas às novas tecnologias que devem incidir as nossas preocupações. Tentar criar barreiras ao desenvolvimento de técnicas revolucionárias não é possível nem desejável.
Foto: Internet
Também publicado em decaedela.
2 comentários:
Concordo, em absoluto. Nunca o homem inventou uma tecnologia de que não tivesse feito uso, apenas dependendo a intensidade do uso dos contextos socio-económicos... Estes ainda não chegaram ao seu pico no que diz respeito às tecnologias da genética - e quando chegarem duvido muito da possibilidade de um efectivo controlo, mas nem acho isso especialmente grave. Neste país já foi precisa uma licença para ter um isqueiro (e não fomos o único) - e ainda não nos incendiámos...
Abraço.
P. S. A minha fé inabalável na ciência e na razão sempre me deixam um pouco mais optimista que a merda da política! :)
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