No Terraço Longe, André Consciência, 2010
A cor dos lábios mortos quando o sangue foge, as memórias correm a pedra ao luar
A dor do filósofo banhado nos licores do suor dos operários, o perfume intenso e despido
Dos artifícios.
A cortiça das mãos gastas, as carícias nefastas, a tontura de ser uma colina enegrecida
Ou outra coisa que os homens se esqueceram de agendar, a vertigem ensopada da noite
Não querer ver as montras, nunca mais, e preferir as caixas de madeira com música.
Depois, poetas, com tudo que não são, nada ser, passar, e não viver
Até ao último dos homens fitar as brasas na sua lareira, e pensar que Portugal
Foi lembrança ligeira.
Depois, a Pátria, vogando em abismos, e tudo são sonhos, sofismas
A Pátria, erguendo-se aos vivos, e nada são vidros nem livros
De noite só se lê o que na noite há, e abre-se a luz do mundo inteiro
Portugal todo, em chuveiro.
André Consciência
1 comentário:
Um belíssimo poema.
Abraço.
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