Sexto Fragmento
36 - Aristóteles defendia que a medida da Verdade é o ser ou a coisa, não o pensamento ou o discurso: de modo que uma coisa não é branca porque se afirma com Verdade que é assim; mas se afirma com Verdade que é assim, porque ela é branca. Martin Heidegger defendia que a verdade estava constantemente em construção. O que nos deixa uma questão, será o conhecimento em função do desvelamento da verdade ou de si mesmo? E segundo, simétrico filho canibal do primeiro, será o conhecimento em função de si mesmo, ou da acção? William James, servindo-se da filosofia, edificou um templo (emendo: um circo) a Circe.
37 - A sobrevivência e o direito à vida, superior no mais forte ao direito à vida no mais fraco, traduzem-se na plutocracia em rivalidade entre os clastomaníacos da vida do símbolo, possuir significaria consumir e consumir significaria destruir. O inferior faz-se alimentar, ao contrário, pela mania da sobrevivência do símbolo vivo e vivificante representado no superior, reforçado pela inveja e seu correspondente apetite do tipo compulsivo. As massas são, como “massa” indica, a matéria, e por isso passiva ao espírito (há-de mais tarde feri-lo a lira, cada parte a seu tempo). Todavia, o que acontece quando a elite, cega pela/como a matéria, se usa de meios puramente materiais para governar a matéria? Isto sob pretexto igualitário, em que cada um a si mesmo se governa. A matéria, abandonada, tende a devorar-se.
38 - A inteligência alimenta-se da diferenciação, por isso canta a Lira de uma anarquia - não vamos temer essa designação, esse primordial mito - diferente da habitual – nem capitalista por princípio, nem igualitária no que respeita o campo formológico. É um anarquismo a começar na aprendizagem, na remoção do método idêntico de ensino e do pressuposto que, em base, todos os humanos são aptos a compreender de igual maneira, tanto como a compreender os mesmos conteúdos. Para a memória o treino da memória, e convir dar a essa prática corrente outro título que não o actual “ensino”.
39 - A este propósito sonhei que vivia numa sociedade em que se passava o seguinte, ao menino, chegado a menino, se cortava o órgão do sexo, e na maioridade o haviam de enviar ao bordel (sim, ao bordel).
40 - Aos intelectuais e acima, há a saber que, em todos os tempos em que o mundo existir através da imaginação do homem, assim como acontece presentemente e tal como se sucede desde o início dos inícios e se sucederá, suponho, até ao fim, não existe qualquer outra elite além de vós, e vós sois a única e verdadeira elite. Esta é a ordem das coisas. A plutocracia não a conhece (nem esse é ofício da matéria enquanto tal), e os ricos não passam de parte das massas.
André Consciência
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