O número de indivíduos com um curso superior em Cabo Verde no desemprego aumentou de 802 em 2006 para 1.377 em 2008, uma conclusão da investigadora cabo-verdiana Arlinda Cabral, citada domingo pelo diário digital "Asemana".
Os dados constam do seu projecto de investigação académica no âmbito da preparação do Mestrado, e que deverá evoluir no entanto para a tese de doutoramento a ser realizado na Universidade Nova de Lisboa.
Este projecto foi apresentado no III Encontro Nacional sobre Investigação e Desenvolvimento que decorreu na cidade da Praia.
De acordo com os dados do projecto, em 2006 o número de diplomados desempregados em Cabo Verde era de 805. Em 2007 subiu para 880 e em 2008 para 1.377. O estudo revela ainda que, em 2006/07, os estudantes que regressaram foram na maioria bolseiros, correspondendo a 88,14 por cento, contra 10,84 por cento de estudantes/não bolseiros, ou seja, os que custeiam os seus estudos.
Para a investigadora Arlinda Cabral, este crescimento é exponencial e, por isso, obriga a um questionamento.
“Se estamos a referir que Cabo Verde precisa que os seus quadros regressem, como podemos cruzar este aspecto com um aumento de número de desempregados com um curso superior? Perante essa situação aparentemente contraditória, urge saber que mercado de trabalho temos para absorver os quadros com nível de ensino superior e aqueles que se encontram a formar”.
Cabral garante que, com este projecto, pretende saber como é que se processa a inserção profissional desses diplomados no mercado de trabalho, o que implicaria fazer um ponto da situação, isto é, de que forma é que estão a ter acesso ou não a este mercado. “Em primeiro lugar tenho que dizer que a inserção profissional é um processo e há que dar um período de três anos pelo menos, para se saber qual o percurso que o diplomado fez para chegar a um determinado ponto. Isto é, se está inserido num determinado trabalho, se está inactivo ou em processo de formação pós graduado, e compreender como é que chegou a tal situação”, refere.
O estudo não aponta ainda conclusões. E para se chegar a esse ponto, implica procurar conhecer as condições do mercado cabo-verdiano em termos de absorção, uma vez que “não existe excesso de mão-de-obra qualificada, mas sim a capacidade do país em dar ou não resposta na capacitação e qualificação de quadros”, sublinhou.
Segundo Arlinda Cabral, é interessante também compreender quais os recursos estratégicos e mecanismos que os diplomados utilizam para se inserirem no mercado. Se é através da rede de concurso público, redes sociais de amigos, criação do auto emprego, e saber também qual é a avaliação que fazem da sua situação.
Nesse aspecto, a investigadora considera que é necessário uma articulação entre o mercado de trabalho e as instituições de ensino superior, nomeadamente as universidades, os poderes centrais e locais, as entidades empregadoras, as associações e as ordens profissionais, como forma de se propor um diálogo mais aberto e constante entre eles.
Em jeito de conclusão, a investigadora propõe a criação de agentes com interesse na matéria e que antecipadamente se pronunciem sobre as necessidades, para que possa haver uma planificação adequada às necessidades do mercado que, cada vez mais, se torna mais exigente e o estabelecimento de uma “massa crítica” alargada nessa matéria.
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