MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia
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Agostinho da Silvaquinta-feira, 26 de novembro de 2009
A recordar a morte de Mário Cesariny...
A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos concerteza
Santos
Mártires
e Heróis.
Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.
Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha de cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa não terem de
recorrer à vala comum.
Mário Cesariny
O Papá que veio do Leste, Mário Cesariny, 1980
5 comentários:
Já lá vão três anos.
Embora não o tenha apreciado e continue a não gostar da sua poesia, reconheço-lhe alguns bons poemas. Infelizmente, na minha opinião, poucos, mas isso também vale o que vale e gostos são gostos.
Deixo aqui, o mais apropriado à efeméride.
Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar
Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar
Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar
Radiograma, Mário Cesariny
Cesariny foi um génio, tout court. Um dos maiores poetas do século XX, e dos poucos cuja obra escapa à sombra de Pessoa (o outro é Herberto Helder); aliás, ao contrário de Herberto Helder (tenho que o dizer, apesar de o considerar o maior poeta de Língua Portuguesa vivo), que enfileirou pela atitude comum de «ignorar» Pessoa, atitude de ressentimento de quase todos os poetas portugueses (e que Pascoaes inaugurou, também tenho que dizer isto) contemporâneos de Pessoa e vindouros, Cesariny estabeleceu um diálogo com a obra de Pessoa, fazendo de Álvaro de Campos também um seu heterónimo e o eixo de ligação entre ambos.
Só os grandes não temem a grandeza; o mesmo fez Pessoa, ao «enfrentar» Pascoaes e ao querer superá-lo como Super-Camões - e superou, apesar de Pascoaes ser mais inspirado que Pessoa; mas isso é irrelevante, como disse Pöe, os poetas puramente inspirados são poetas imperfeitos, e as grandes obras são filhas da sua forma (cito de memória) - Mário de Sá-Carneiro foi mais inspirado que todos eles, e nunca conseguiu sair completamente do decandentismo e do ultra-romantismo tardio... E Pascoaes - excepto na poesia em prosa -, nunca conseguiu sair dos canônes românticos...
Não concordo com o que dizes. Aliás, surpreende-me que alguém que escreve poesia como tu, o possa dizer.
Ao que tu chamas genialidade eu chamo maluqueira.
Mas não vou discutir isso, é uma conversa muito comprida e falta-me o tempo.
Forte abraço.
PS: O meu comentário só se refere à tua opinião sobre a poesia do Cesariny, sobre o resto estamos de acordo na generalidade.
O que «eu digo»??
Quem o diz é a crítica internacional, a teoria e a história da literatura.
Cesariny é o poeta surrealista português mais importante.
A sua obra é uma das mais traduzidas, em várias línguas; o seu «Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos», um dos 10 melhores livros de poesia alguma vez escritos em Portugal.
Aquilo a que chamas «maluqueira» é tão-só uma das mais elevadas manifestações poéticas da literatura portuguesa do século XX...
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