Está à venda o primeiro número da revista Orpheu (Janeiro-Fevereiro-Março) fundada por Luís de Montalvor, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Armando Cortes-Rodrigues, Alfredo Guisado, o brasileiro Ronald de Carvalho.
São jovens intelectuais cujas idades oscilam entre os 27 anos (Fernando Pessoa) e os 19 (António Ferro, o editor).
A revista, que nasceu nas tertúlias destes homens de letras, nos cafés Martinho e Irmãos Unidos, insere-se nas novas correntes estéticas futuristas e apresenta-se com um espírito provocatório e agressivo a que não é estranha a consciência da guerra que assola a Europa.
Santa-Rita Pintor e Mário de Sá-Carneiro têm transmitido de Paris as novidades dos meios de vanguarda literária e artística e são essas novidades, formalizadas agora em Orpheu, que escandalizam a sensibilidade e os critérios da pequena burguesia nacional e dos seus literatos tradicionalistas.
Desde a arrojada capa de J. Pacheko, aos novos signos gráficos (letras, grandes números), à distorção de ritmos, aos vocábulos insólitos, à intenção anti-saudosista, à exaltação febril das realidades que derivam da indústria e da máquina, tudo é «escandaloso».
In Diário da História de Portugal, de José Hermano Saraiva e Maria Luísa Guerra, p. 504.
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