É essa visão que faz falta. Actualmente, temos uma Esquerda que, ainda refém das culpas que teve da descolonização que fez, com todas as guerras civis que gerou, vive ainda a sua provinciana paixão europeísta, virando por completo as costas ao mar, à nossa vocação atlântica… Do outro lado, temos uma Direita que, ainda refém das culpas que teve na colonização que sustentou, acha que a nossa vocação atlântica se cumpre no seguidismo em relação à Administração Norte-Americana...
Importa pois que o MIL se assuma como essa voz necessária, tanto mais necessária porquanto essa voz não existe, publicamente, de forma estruturada. No plano político, nomeadamente, não há nenhum partido que assuma essa visão cultural do país: à esquerda, porque se continua a considerar, apesar de toda a retórica, que Cultura é o que vem da Europa, em Paris de particular (não por acaso, o Manuel Maria Carrilho, tido como o grande ministro da Cultura do pós-25 de Abril, tinha como modelo o Jack Lang…); à direita, porque se continua a defender, igualmente apesar de toda a retórica, que tudo deve ser decidido, em última instância, pelo Deus-Mercado…
Ao defender que a Língua e a Cultura devem ser o eixo de toda a Política, ao contrário do que acontece actualmente, em que a pasta da Cultura é a menos importante de todas, não vamos certamente defender que o orçamento da Cultura passe a ser financeiramente maior do que o da Saúde ou o da Segurança Social. Não é disso, como é óbvio, que se trata. Trata-se apenas de defender que todas as políticas sectoriais se devem subordinar a essa visão axialmente cultural do país…
Agora é pois a hora de surgir essa voz. Uma voz liberta dessas culpas e desses traumas, tão liberta que nem sequer pretende acusar alguém. A História foi o que foi. É tempo de, finalmente, olharmos para o Futuro…
3 comentários:
e esse primado dado às produções culturais, reveste-se de uma série de efeitos colaterais positivos: liberta-nos da coisificação das sociedades modernas, egótica e auto-destrutiva porque empurra o Homem para uma espiral insaciável de Consumo; porque aumenta a nssa pegada ecológica e de carbono; porque é mais sustentável num mundo de recursos limitados; mas onde a produção de Saber e Lazer é infinda, porque sustentável apenas na mente do produtor e do consumidor.
Baste-se primeiro a barriga, e depois, poder-se-á nutrir a mente. Mas quando esta estiver devidamente alimentada... o poder criativo assim libertado não deixará mais que a barriga torne a sentir fome.
Cultura: (opção por) um modelo de civilização; esse é o eixo.
«[...] combater pela lei como pelas muralhas da cidade.»
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