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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

terça-feira, 14 de novembro de 2023

Guerra Junqueiro, visto por José Marinho

 

Ainda que nem sempre explicitamente, o pensamento de José Marinho teceu-se no seu constante diálogo com alguns filósofos – em particular, Sampaio Bruno e Leonardo Coimbra. De tal modo que o seu pensamento mais estritamente teorético pode ser mesmo interpretado como uma tentativa de sintetizar essas duas cosmovisões, tão, a priori, antitéticas entre si: a brunina afirmando o primado ontológico da homogeneidade originária do ser sobre a heterogeneidade actual do existente, a leonardina afirmando o inverso, fazendo, nessa medida, a apologia deste “mundo de distâncias e separações”.

Ainda que por vezes de forma tácita, o pensamento de José Marinho teceu-se igualmente no seu constante diálogo com alguns poetas: eis o que aqui veremos a respeito de Guerra Junqueiro.

Apesar de, como confessou numa carta a José Régio, datada de 26 de Agosto de 1950, ter chegado a padecer de uma “junqueirianite aguda”, nunca, na nossa perspectiva, Marinho se projectou nele a ponto de com ele se identificar – tal como aconteceu, na nossa leitura, com Antero de Quental. Deveu-se isso, porventura, ao facto de, em múltiplas passagens da sua obra, inclusive nos textos que expressamente lhe dedicou, Guerra Junqueiro aparecer enquanto par menor – nomeadamente, em relação a Sampaio Bruno e a Teixeira de Pascoaes. Assim, Junqueiro ora é visto como “precursor” de Pascoaes, ora enquanto “acompanhante” de Bruno, enquanto seu “amigo e irmão espiritual”.

Em diversas passagens da sua obra, eis, com efeito, como Marinho perspectiva a obra de Junqueiro: “A meditação de Junqueiro acompanha de perto a meditação de Bruno, o movimento de alma aparece similar nos dois íntimos amigos e irmãos espirituais, aqueles homens, sem dúvida, que contra todo o esperado e sabido, mais longe se adiantaram, desde o nosso abortado renascimento e antes da nova Renascença Portuguesa, pelos caminhos da meditação do homem e do seu universal destino.”; “…o filósofo de A Ideia de Deus e o poeta das Orações são aqueles propositores do difícil enigma e da imperiosa verdade cuja caminhada os homens da Renascença Portuguesa logo prosseguiram”; “…na vida espiritual portuguesa, tal qual foi, tal qual é, ele [Junqueiro] representa, com Sampaio Bruno, algo de grave entre o mais grave: a assumpção da negatividade”.

Segundo Marinho, eis a “tarefa” que ambos herdaram de Antero – “…o Absoluto ficaria neste nosso pensador crucial numa forma clássica, pretérita, como Unidade do ser enquanto ser. Para os poetas e pensadores sequentes, nomeadamente Guerra Junqueiro e ainda também Sampaio Bruno, transitaria a grave, a imensa dificuldade, se é bem certo que tudo quanto se concebe como unidade (toda a unidade resulta afinal aleatória) se devolve necessariamente não só à diversidade do idêntico, mas à multiplicidade ou à relação do uno-múltiplo insolúvel”–, a tarefa que (só) Bruno cumpriu: “Sampaio Bruno é o nosso primeiro filósofo da negação e da negatividade (…). A sátira do seu grande amigo e convivente Guerra Junqueiro, se comparada à negação de Bruno e à visão que a consente, afigura-se-nos hoje, embora fundamente significativa, muito mais aleatória e episódica na forma que assumiu”.

Tal como, na visão de Marinho, Junqueiro aparece menorizado relativamente a Bruno, o mesmo acontece relativamente a Pascoaes. Aliás, o autor da Teoria do Ser e da Verdade chegou a escrever que “o que principalmente me interessa na poesia de Junqueiro é o caminho que nela se abre, ou tão somente se entremostra, para alguma coisa que por todos os lados a excede: a poesia de Teixeira de Pascoaes” – ainda que, logo de seguida, tenha ressalvado que “a poesia de Junqueiro não vale apenas como vestíbulo da poesia de Pascoaes, ainda que tal coisa não devesse ser desonrosa para poeta algum, pois quem se encontre nos caminhos que levam à verdadeira grandeza, em poesia como em filosofia, participa nela”. Eis, de resto, a tese que Marinho reiterou em diversas da sua obra, nomeadamente ao defender, de forma expressa, que “a mais profunda herança de Junqueiro vai passar para Teixeira de Pascoaes”, a tese que o próprio Pascoaes validou, pelo menos indirectamente, ao ter assumido, na sua juventude, ter querido ser “um outro Guerra Junqueiro”.

Apesar desta visão mais desapaixonada, nunca deixou, porém, Marinho, de considerar Junqueiro como um dos “homens verdadeiramente grandes do nosso país”. Por mais que lhe tivesse faltado a “unidade interna da obra”, por mais que “o poeta tenha ficado muito atrás do filósofo”, foi Junqueiro, ainda nas palavras de Marinho, “um daqueles poetas cada vez mais raros que ligam o céu à terra e nos forçam a olhar outra face matinal dos seres e das coisas”. Teve, nessa medida, o que tanto faltou a Antero de Quental como a Fernando Pessoa – ainda nas palavras de Marinho, “a Antero faltou o sentido do liame sublime”, “a Pessoa faltou, como falta a clássicos formais, ou modernistas informes, o sentido do que liga e separa”. E por isso, com efeito, se insurgiu enfim Marinho com o facto de “Junqueiro e Pascoaes serem injustamente olvidados ou ignaramente aludidos”. 

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