Uma
das obras de referência de Sampaio Bruno teve o sugestivo título de O Brasil Mental (1898) e, nela, procurou
o nosso filósofo-hermeneuta reconstituir a “acção extraordinária do positivismo
sobre a mentalidade brasileira”, denunciando que, na sua versão mais radical
(“jacobina”), esse positivismo consubstanciou-se como “expressão do ódio ao
português”, dado o seu alegado carácter estrangeirado – ainda nas suas
palavras: “As considerações preliminares, e incontestáveis, justificam, em
cheio, o programa deste volume. Com efeito, a inspecção duma doutrina resulta,
por completo, utilitária, visto como toda a doutrina seja tendencialmente um
acto. No Brasil se exibe o exemplo integralista da objectivação de semelhante
afirmativa. Uma corrente mental concretizou em instituições políticas; e o
republicanismo fluminense é a simples aplicação do positivismo parisiense (…)”.
Ainda
segundo Álvaro Ribeiro, ao denunciar o positivismo brasileiro como mero
decalque do positivismo parisiense, Sampaio Bruno procurou também denunciar a
estrangeirização do pensamento português – como escreveu na sua obra Os Positivistas: “Depois de estudar em Os Modernos Publicistas Portugueses a
acção e a influência da geração das Conferências do Casino, a doutrinação de
Proudhon e as outras correntes socialistas, de que fará a crítica ao longo de
outras obras, Sampaio Bruno dedica especialmente à análise crítica do
positivismo o livro intitulado O Brasil
Mental. É fácil ao leitor atento verificar que Sampaio Bruno, ao escrever
tão longa crítica, tem sobre o atril os livros de Teófilo Braga, de Teixeira
Bastos e os números da revista dirigida por Júlio de Matos. Se escolheu para
objectivo da sua exposição a expressão brasileira do positivismo laffitista,
fê-lo por aquela atitude de delicadeza, tão rara entre nós, de não ferir
directamente os positivistas portugueses, seus amigos e compartidários”.
Como
acrescenta ainda, em remate: “Não queremos com isto dizer que escolhesse os
escritores brasileiros para vítimas de expiação dos males que afligiam a
cultura portuguesa, nem significa sequer menos apreço pela cultura brasileira,
de que era sério estudioso. Ao criticar o positivismo de Benjamim Constant,
Óscar de Araújo, Teixeira Mendes, Miguel de Lemos, Luís Barreto, e outros mais,
Sampaio Bruno prosseguiu um fito de muito mais alta dignidade e valia. O
pensador português pretendia mostrar que foi um engano para a nação brasileira
subordinar-se à cultura francesa (positivistas) ou à cultura alemão
(materialistas), em vez de manifestar independência de pensamento e exprimi-la
em amigável diálogo filosófico de aquém-e-além Atlântico”. Ou seja, em suma:
para Sampaio Bruno, o Brasil e Portugal, no século XIX, deixaram que o seu
pensamento filosófico se fosse descaracterizando por correntes poucos ou nada
afins com a nossa língua, cultura e história; o que, fatalmente, levou a um
progressivo afastamento mútuo.
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