Com curadoria de Carlos Nader e Hermano Vianna, consultoria de José Miguel Wisnik e curadoria especial de Isa Grinspum Ferraz, a mostra Essa nossa canção abarca diversos gêneros do cancioneiro brasileiro, promovendo conexões entre algumas das canções mais representativas da história da música nacional às formas contemporâneas de expressão musical. Da bossa nova ao sertanejo; do rock ao samba; do funk ao axé; do chorinho ao forró – a exposição reafirma a força da diversidade brasileira através da canção.
Em Essa nossa canção, música e língua se unem como um sopro e se espalham como o vento pelo espaço expositivo, trabalhado com tecidos leves e formas onduladas. A experiência dos visitantes começa já no elevador, quando o público é surpreendido por uma intervenção sonora criada pelo produtor cultural Alê Siqueira a partir de vocalizes das músicas brasileiras. Cantos como “Ôôôôô”, “Ilariê”, “Aê-aê-aê” foram editados para formar uma única canção sem aquilo que convencionalmente se entende por palavra.
Depois desse primeiro estranhamento, o público encontra a instalação sonora Palavras Cantadas, também de Alê Siqueira, na qual 54 músicas brasileiras são despidas do acompanhamento instrumental; cantadas à capela e entremeadas umas nas outras, parecem conversar entre si. A obra costura versos de faixas como Trem das Onze (Adoniran Barbosa), Salve (Mano Brown) e Nem Luxo Nem Lixo (Rita Lee e Roberto de Carvalho). O visitante perceberá que o trecho “Olá, como vai?” de uma canção se relaciona com “Eu estou aqui. O que é que há?” de outra, como se criasse uma história única composta por dezenas de vozes.
A instalação é vivenciada em um espaço contido por cortinas, acolhedor e confortável, e conta com 14 caixas de som acústicas, que vão permitir a percepção de nuances das vozes criando um ambiente sonoro imersivo.
Na segunda sala da exposição, dez canções emblemáticas do cancioneiro nacional ganham novos intérpretes, promovendo ligações inusitadas entre as interpretações “clássicas” e a música brasileira contemporânea. Em vídeos dirigidos por Daniel Augusto, Carlinhos Brown interpreta O Vento, de Dorival Caymmi, uma canção-guia para o sopro musical da exposição Essa nossa canção.
O cantor sertanejo Felipe Araújo e seu pai, João Reis, emprestam suas vozes para a caipira Tristeza do Jeca, de Angelino de Oliveira. Juçara Marçal canta Sinal Fechado, de Paulinho da Viola. Johnny Hooker e Luiz Tatit interpretam Conceição, de Jair Amorim e Dunga, sucesso no repertório de Cauby Peixoto. Cabem a José Miguel Wisnik e Xênia França a faixa Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, uma das mais conhecidas em todo o mundo.
Dez slammers soltam a sua versão de Construção, de Chico Buarque; e dez fãs dos Racionais MC’s cantam o clássico rap Diário de um Detento. “Não se trata das melhores canções que o Brasil já produziu. Foram escolhidas por outro motivo: todas aparecem aqui por serem exemplos reveladores de determinadas relações entre canções e língua em território brasileiro. Do uso de frases bem coloquiais até o debate que questiona se o rap anuncia o ‘fim da canção’”, afirmam os curadores Carlos Nader e Hermano Vianna.
O terceiro ambiente da exposição é dividido em dois espaços. Em um deles, o público terá a oportunidade de assistir ao documentário As Canções (2011), de Eduardo Coutinho. Para este filme, ele conversou com anônimos que cantam as músicas de que mais gostam e revelam histórias pessoais relacionadas a essas faixas. No outro, os cineastas Quito Ribeiro e Sérgio Mekler realizam obra inédita composta por pequenos trechos de músicas que estão em vídeos do YouTube com interpretações de Homem com H, conhecida na voz de Ney Matogrosso, Beijinho no Ombro, sucesso de Valesca Popozuda, Índia, do repertório de Roberto Carlos, e O Caderno, de Toquinho.
Neste segmento da exposição Essa nossa canção, o objetivo é mostrar de que forma o público em geral, não só cantores, cantoras, instrumentistas e produtores, conseguem se apropriar das canções e registrá-las. Se antes era preciso ter acesso a engenhocas, como gramofones, ou ir a estúdios ultramodernos, atualmente basta ter um celular na mão. Há, ainda, uma linha do tempo em que são apresentados aparelhos que serviram e servem para “aprisionar” a língua cantada, como vitrola, disco de 78 rpm, fitas K7 e iPods.
Na última sala da exposição, a canção ganha materialidade no papel escrito e desmistifica-se a ideia de que, para a composição de uma música, basta a inspiração. Reproduções dos manuscritos de canções de nomes como a cantora sertaneja Marília Mendonça, o rapper e MC Xis e o sambista Cartola, com rabiscos em diversos versos, estarão expostas nas paredes a fim de mostrar as escolhas linguísticas que podem ser vitais para tornar uma canção inesquecível. In “Mundo Lusíada” - Brasil
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