Para este evento, convidámos representantes da sociedade civil dos
vários países da CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa –, bem como
de outras regiões do espaço lusófono. Estiveram presentes, nomeadamente, Jorge
Rangel, Presidente do Instituto Internacional de Macau, e Bernardino Crego Cervantes,
em representação de algumas associações galegas.
O propósito, plenamente conseguido, foi o de perceber a forma
diversa como a Guerra da Ucrânia é percepcionada pelos vários países da CPLP. Com
efeito, se em Portugal esta guerra é omnipresente – desde 24 de Fevereiro de
2022, dia após dia, todos os “media” a têm coberto de forma massiva –, o mesmo
não acontece, de todo, nos outros países da CPLP. Para estes, a Guerra da
Ucrânia é algo de bem mais distante, quase um “assunto privado” entre europeus,
por mais que, como saibamos, as consequências desta guerra estejam a ser cada
vez mais globais, aos mais diversos níveis (como, desde logo, no da alimentação
e no da energia).
Não admira pois, por isso, que os portugueses, em geral, se sintam
mais próximos dos ucranianos – acompanhamos, dia após dia, os desenvolvimentos
trágicos desta guerra e temos até acolhido um número significativo de
refugiados. Por mais que decorra no outro extremo da Europa, os portugueses, em
geral, sentem que esta guerra é também “nossa”. Com os outros cidadãos
lusófonos, tal não acontece com a mesma intensidade, por mais que ninguém seja
indiferente ao sofrimento do heróico povo ucraniano.
Para mais, a dimensão geopolítica desta guerra – com o crescente envolvimento
dos países da OTAN/ NATO, em particular, dos Estados Unidos da América, contra
a Rússia, herdeira da União Soviética –, veio recuperar alguns alinhamentos
internacionais que pareciam já ultrapassados de vez. Em particular, em África,
na África Lusófona, onde, como sabemos, a União Soviética foi um actor decisivo
na derrocada do Ultramar Português. Não admira pois, por isso, que os PALOP:
Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa estejam a ser os mais relutantes
na condenação da Rússia, por mais que expressem a sua solidariedade com a
Ucrânia. Caso para dizer que a “colonização” soviética ainda se faz sentir…
Quanto ao Brasil, ressalta, claramente, uma sintonia com a generalidade dos restantes países latino-americanos, em que persiste uma grande desconfiança relativamente aos Estados Unidos da América, dado o seu histórico de ingerências políticas na parte sul do continente americano. Se tudo parecia dividir os dois candidatos que se confrontaram na Eleição Presidencial de final de 2022 – Lula da Silva e Jair Bolsonaro –, neste ponto eles estiveram muito próximos, defendendo, ambos, um não envolvimento directo nesta Guerra, quando não uma clara equidistância. Em contraste, a posição de Timor tem sido bem mais solidária com a Ucrânia, o que não surpreende: o povo timorense sabe bem o que é ter o país invadido.
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