Excelentíssimo
Senhor Presidente de Moçambique
Caríssimo Engº Filipe Nyusi
Como certamente vai sendo
informado, a gravíssima situação vivida no norte de Moçambique tem tido algum
eco mediático em Portugal – ainda que muito distante do eco que deveria ter,
tratando-se de um país irmão. Há ainda, com efeito, uma significativa maioria
de pessoas em Portugal que olha assim para Moçambique, como um país irmão, e
que está genuinamente preocupada com o que está a acontecer.
Temos também acompanhado
algumas negociações diplomáticas, nomeadamente entre Moçambique e Portugal, e
estamos informados da vossa posição de princípio: de que apenas militares
moçambicanos se envolvam, directamente, na resolução do conflito armado em
curso.
Compreendemos essa vossa
posição de princípio: é sempre melindroso, para qualquer país, assumir que os
seus recursos próprios, por si só, não são suficientes. Mas consideramos que,
face à escalada da situação, essa posição de princípio se torna cada vez menos
sustentável. Para mais, Moçambique não seria o primeiro país soberano a
fazê-lo. Nem, a fazê-lo, será decerto o último. O nosso comum país irmão,
Timor-Leste, como sabe, só com ajuda externa conseguiu libertar e pacificar o seu
território.
Compreendemos igualmente a
vossa particular relutância em aceitar o envolvimento directo de militares
portugueses na resolução do conflito armado em curso. Como ex-potência
colonial, esse eventual envolvimento directo poderia, de facto, ser equivocamente
entendido como uma tentação neo-colonial por alguns moçambicanos, por mais que,
como é do vosso conhecimento, não seja, de todo, esse o espírito que anima as
autoridades portuguesas, a começar pelo nosso reeleito Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa.
Como já o ouviu de viva voz, o
nosso Comandante Supremo das Forças Armadas assume Moçambique como a sua “segunda
Pátria”. O mesmo acontece, como nós próprios o podemos testemunhar, com muitos
outros portugueses. E em nenhuma circunstância, podemos assegurá-lo, tal assunção
decorre de uma tentação neo-colonial, por mais que exista, nalguns casos, algum
(justo) ressentimento pela forma (caótica) como decorreu a descolonização. Mas
isso, para a significativa maioria que em Portugal olha para Moçambique como um
país irmão, são, realmente, “águas passadas”. Não há ninguém em Portugal, no
seu juízo perfeito, que alimente qualquer tentação neo-colonial.
Se, ainda assim, considerar que o envolvimento directo de militares sob a bandeira portuguesa pode ressuscitar alguns “fantasmas”, tome por favor em consideração a seguinte proposta: aceite uma força militar sob a bandeira da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa). Estamos certos de que não será difícil de a constituir rapidamente, sendo que, como também se verificou em Timor-Leste, é essencial que as forças militares no terreno falem a mesma língua que as populações locais. Por tudo isso, esta parece-nos ser pois a solução ideal, que deixamos, respeitosamente, à vossa consideração.
Com as mais fraternas saudações lusófonas,
Renato Epifânio
Presidente
do MIL: Movimento Internacional Lusófono
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