Arqueólogos cabo-verdianos ficaram surpreendidos com a descoberta de imagens de santos durante uma escavação na Capela Gótica da Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Cidade Velha, e avançam que o próximo passo é a conservação e identificação do material
“O importante agora é conservar as imagens e, a partir dos elementos decorativos que nos ajudam para a iconografia de santos, vamos identificar qual o santo”, disse à agência Lusa a arqueóloga do Instituto do Património Cultural (IPC) de Cabo Verde Nireida Pereira Tavares.
Na semana passada, o IPC anunciou que, no âmbito de uma intervenção de urgência na Capela Gótica da Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Cidade Velha, foram descobertas imagens de santos durante uma escavação.
A técnica daquele instituto disse que a descoberta foi feita por eletricistas, quando estavam a instalar a rede elétrica na capela, com cerca de 500 anos, cujo restauro em curso é financiado pelo instituto Camões.
“Começaram a identificar uma imagem de madeira e a partir desse momento a equipa de arqueologia foi chamada, e começou a fazer sondagens e registo e chegou a mais imagens enterradas no sítio”, descreveu Nireida Pereira Tavares.
A arqueóloga referiu que, após conversa com os padres e representantes da igreja, chegou-se à conclusão que se trata de imagens que representam um ritual católico que era praticado quando um santo deixava de ser utilizado.
“Em vez de ser colocado no lixo ou ser quebrado, era enterrado”, disse a mesma fonte, indicando que foram encontradas imagens de madeira e cerâmica, que no geral estão em mau estado de conservação.
“Mesmo assim, as de cerâmica estão mais bem conservadas do que as de madeira, o que é natural”, prosseguiu a técnica do IPC, garantindo que todas as imagens foram retiradas e que o próximo passo é fazer a sua identificação e conservação.
Uma dessas imagens já identificada é de Nossa Senhora, mas que está partida da cintura para baixo, explicou Nireida Tavares.
Para a arqueóloga, esta descoberta foi “uma autêntica surpresa”, não só a nível material, mas também a parte arquitetónica da igreja que estava enterrada, devido à não utilização ao longo dos tempos e das várias fases de construção.
“Tem sido engraçado ir percebendo e tentando reconstruir a história da construção do edifício”, continuou Nireira Tavares, dizendo que as informações vão permitir ter noção de tudo o que há ao redor da Igreja Nossa Senhora do Rosário.
O IPC avançou que a equipa de arqueólogos está agora “a escavar toda a área, tendo em conta a existência de outras matérias que vão surgindo, nomeadamente fragmentos de ossos humanos”.
Enquanto os trabalhos não terminarem, a arqueóloga do IPC não descartou a possibilidade de se encontrarem outros materiais, tal como poderá acontecer em toda a Cidade Velha.
“É uma autêntica surpresa e não descarto essa hipótese (de mais achados)”, reforçou, nas declarações à Lusa, lembrando que os níveis mais antigos da Cidade Velha estão “muito abaixo”, tendo em conta a evolução ambiental.
Construída em 1495, a Igreja Nossa Senhora do Rosário, no concelho de Ribeira Grande de Santiago, integra um dos raros exemplos da arquitetura gótica na África subsaariana. Em termos arquitetónicos, o conjunto possui caraterísticas típicas da arquitetura quinhentista.
A intervenção global na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, onde pregou o Padre António Vieira e por onde terão passado Vasco da Gama e Cristóvão Colombo, iniciou-se em dezembro de 2018 e deverá estar concluída nos próximos meses.
A igreja é considerada o mais antigo edifício histórico da Cidade Velha que se mantém intacto.
O templo conta com uma “capela esplêndida de estilo manuelino” que é o seu elemento fundador, indicou anteriormente o IPC.
A Cidade Velha foi classificada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como Património da Humanidade em 10 de maio de 2009. Em 26 de junho do mesmo ano, obteve a classificação de uma das Sete Maravilhas do Mundo de origem portuguesa.
A reabilitação global da igreja foi financiada pelo Governo de Cabo Verde, através do Fundo do Turismo, e a intervenção na Capela Gótica suportada pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua. In “Expresso das Ilhas” – Cabo Verde com “Lusa”
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