O Ministério da Educação, preocupado com os erros de português nos manuais escolares, criou uma comissão de especialistas, que até ao mês de Julho vai trabalhar na correcção da situação do ensino da língua portuguesa em Angola
A afirmação é da ministra da Educação, Luísa Grilo, que garantiu que os trabalhos da comissão vão incidir sobre as gralhas e erros de conteúdos programáticos que se verificam nos manuais escolares, distribuídos nas instituições de ensino do País.
"Em alguns casos são gralhas, outros são mesmo erros de ortografia, e outros de concordância", disse a ministra.
Segundo Luísa Grilo, é preciso restruturar os conteúdos programáticos e melhorar a apresentação dos próprios manuais, para serem mais atractivos.
A ministra teceu essas declarações aos jornalistas, no final da reunião da Comissão para Política Social do Conselho de Ministros, que foi orientado pela ministra de Estado para Área Social, Carolina Cerqueira, na terça-feira, 26.
De acordo com Luísa Grilo, o Ministério conta com uma equipa científica para avaliar e seleccionar a melhor proposta de livro, de forma a evitar erros nos manuais.
A ministra disse ainda que, após a correcção dos manuais, no final de Julho, o ministério irá entre os meses de Agosto e Setembro, entregar as gráficas para que os manuais escolares sejam apresentados em Dezembro, para o ano de 2021.
De recordar que em Dezembro de 2018, o Ministério da Educação, através do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento da Educação, corrigiu e actualizou os planos curriculares, programas das disciplinas, manuais escolares, cadernos de actividades, guias dos professores, cadernetas de avaliação e relatórios descritivos, que estava em vigor no sistema de Ensino Primário e Pré-Escolar desde 2004 e que continha inúmeros erros.
A título de exemplo, no livro de História da 6.ª classe, a morte do líder fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), maior partido da oposição angolana, ocorrida a 22 de fevereiro de 2002, estava referenciada com o ano de 2004, o qual provocou controvérsia nos últimos anos, no País.
Ao Novo Jornal, o ex-director adjunto para área académica do ISCED-Luanda, e professor de literatura, Muanza Manuel, referiu que a questão deve ser vista em duas perspectivas: a da qualidade da escrita dos textos nos manuais e a da adequação dos conteúdos à que muitos chamam "política curricular" do Estado.
"Em relação à escrita, convém fazer distinção entre erros e gralhas. O material impresso está sempre sob o risco de conter gralhas, tais como salto ou inversão das letras, entre outras".
Muanza Manuel prossegue: "Erros em manuais para o ensino-aprendizagem não são perdoáveis. Devemos entender por erro a não observância da norma escrita, o atropelo aos códigos do funcionamento da língua como sistema".
Segundo o antigo director adjunto para área académica do ISCED-Luanda, e professor de literatura, o erro é evitável em materiais impressos, desde que a revisão de textos originais seja confiada a profissionais competentes.
"Suponho que os gestores do Ministério da Educação tenham negligenciado a intervenção de revisores competentes", referiu Muanza Manuel, que acrescentou: "É provável que os gestores tenham contratado alguns curiosos, não treinados para detectar incorrecções no texto, ou sem domínio da norma e sem prática de revisão dos escritos".
"Trata-se de um fenómeno inaceitável, uma vergonha nacional, pois Angola dispõe de bons revisores. Não têm necessariamente diplomas da Universidade. Por exemplo, temos uma geração de jornalistas, professores, sem esquecer revisores em dedicação exclusiva, que tratam com higiene sintáctica os escritos", referenciou. In “Novo Jornal” - Angola
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