Diferenças ideológicas à
parte, orgulhamo-nos de ter como Primeiro-Ministro português um filho de Goa, o
que, por si só, ilustra bem a tese que não nos cansamos de defender: a de que
Portugal é, de longe, no espaço europeu, o país menos racista.
Com efeito, não conseguimos
imaginar nenhum outro país europeu onde algo de similar pudesse acontecer. O
exemplo mais próximo será talvez o do actual Mayor de Londres: Sadiq Aman Khan, filho de emigrantes paquistaneses.
Sendo que, mesmo aí, há uma subtil, abissal diferença – como o próprio decerto
reconhecerá, jamais Sadiq Aman Khan poderia ser eleito Primeiro-Ministro britânico
(é demasiado “não branco” para tal).
Já o caso de António Costa
ilustra bem a nossa diversa matriz cultural e a visão de Portugal em que
nos reconhecemos: um país lusofonamente multicolor, que assume, sem complexos,
toda a sua história e que, por isso, será sempre um espaço natural de
mestiçagem: étnica, cultural e religiosa.
Na nossa ida a Goa, em 2018,
onde participámos num congresso, lembramo-nos ainda bem de termos comentado
esse facto com alguns dos nossos interlocutores – e também nenhum deles
conseguiu imaginar um outro país europeu onde tal fosse possível. Isto numa
altura em que a própria Índia atravessava já uma crise identitária que
entretanto se agudizou. Como então nós próprios denunciámos: “Há um assumido
propósito de fazer do hinduísmo a única religião de referência do país,
tornando assim ‘estrangeiros’ os católicos e os muçulmanos”.
Vem isto a propósito de
algumas notícias recentes que dão conta do mal-estar existente em Goa, por uma
alegada intimação do Governo Indiano, “obrigando milhares de detentores do
cartão de cidadão e passaporte portugueses emitidos em Goa a escolher entre um
de dois registos” (cf. Público,
24.12.19). Isto depois de António Costa ter recebido um cartão de cidadão da
Índia no estrangeiro, na sua visita oficial em 2017, pelas mãos do próprio
Primeiro-Ministro indiano, Narendra Modi.
Obviamente, defendemos que
Portugal deve ter as melhores relações diplomáticas com a União Indiana. A
anexação de Goa, passado todo este tempo, é absolutamente irreversível – como
nós próprios já escrevemos: “Mais de meio século após a anexação, não há
ninguém em Portugal que, seriamente, pretenda questionar o estatuto de Goa.
Enquanto houver Índia, Goa fará pois parte da Índia.” (“Regresso a Goa”, Público, 14.06.18). Não podemos, porém,
aceitar que o Governo português caucione a situação que agora se coloca. Assim
sendo, caro António Costa: ou o Governo indiano permite que os goeses mantenham
a dupla cidadania, ou o Primeiro-Ministro português terá que renunciar à
cidadania indiana. Outra hipótese não há.
Renato Epifânio
Presidente
do MIL: Movimento Internacional Lusófono
1 comentário:
««...Assim sendo, caro António Costa: ou o Governo indiano permite que os goeses mantenham a dupla cidadania, ou o Primeiro-Ministro português terá que renunciar à cidadania indiana. Outra hipótese não há.» Na tentativa de melhorar estas proposta pelo artigo em epígrafe defendo: 1- Que Sua Excelência o Primeiro Ministro de Portugal mantenha a dupla nacionalidade e que sirva de exemplo prático para todos os Goeses e demais defensores desta causa por meios pacíficos e activos.2- Não existe a segunda hipótese apresentada, ou uma derrota antecipada como o autor apresenta, pois o exemplo de Excelência e outras demais negociações devem ser inseridas neste patamar, pois eles dão valor a castas e demais prepotências de poderes centrais. 3- Encetada que está o processo deveremos divulgar esta postura de intervenção natural dos acontecimentos e por certo em defesa da cultura de Portugal. 4- Haverá outra lógicas neste sentido que Goeses e indianos podem acrescentar, porém eu não tenho este conhecimento. Obrigado pela génese do processo e sua relevância internacional.
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