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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

Colecção Nova Águia: https://www.zefiro.pt/category/zefiro-nova-aguia

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

domingo, 27 de janeiro de 2019

Da filosofia como “sabedoria do amor”

Assumindo-se o “espírito”, o “insubstancial substante”, como o fundamento de toda a verdade, nele radica todo o processo de conhecimento. Eis o que José Marinho irá defender ao longo do segundo, terceiro e quarto capítulos da terceira parte da sua Teoria do Ser e da Verdade, respectivamente intitulados: “Emergência do Amor e da Fé”, “Emergência do Juízo e da Razão”, “Compreensão Una e Omnímoda”. Ao longo desse processo que aí se prefigura será dado ao homem aceder, enfim, à “verdade do ser”, à “limpidez diáfana do ser claro para si”. Paradoxalmente, contudo, o homem só pode cumprir esse processo, esse trânsito, na exacta medida em que deixa de ser enquanto tal, mais precisamente, em que se assume enquanto “espírito”: “O homem, enquanto tal, nada tem a ver com a verdade. A verdade é só no espírito e para o espírito. E assim só na medida em que o homem é espírito, está nele a verdade.”. Daí que, com efeito, não seja este apenas um trânsito gnoseológico mas também, sobretudo, um trânsito ontológico – tanto mais porque, para Marinho, “o espírito não é, no homem, um ser que se acrescenta ao ser, mas sim a maneira como o ser do homem eminentemente é”, o seu “autêntico ser”. Só cumprindo-se este poderá, aliás, cumprir-se aquele – ou seja, só cumprindo-se enquanto “espírito” poderá o homem aceder à própria verdade.
Este trânsito, simultaneamente gnoseológico e ontológico, jamais, porém, poderá ser dado como cumprido, dado que, como escreveu Marinho a este respeito, “o abismo na ordem do ser subsiste entre Deus e homem mesmo quando pelo espírito, no âmago de todo o pensamento, nos é dado ultrapassar a humana condição”. Quanto muito, pode o homem antever o fim desse processo, desse duplo processo. Eis, precisamente, o que Marinho faz no final da sua Teoria do Ser e da Verdade – nas suas palavras: “No instante da visão, ali e onde incessantemente regressamos, tudo é já liberto, mas no tempo e no discurso do pensar segundo o tempo e a vida imensa, tudo é, e ainda de si duvidoso, como longa iniciação na verdade, libertação gradual e com longas pausas e demoras (...)./ Se agora olharmos desde o mais extrínseco ao mais íntimo, é-nos dado compreender, num sentido, todo o imenso processo do ser como libertação. Noutro sentido tudo vemos imediatamente como já liberto e exultante no mais secreto do seu ser na radiosa comunhão da já não instantânea mas eterna alegria (...).”. Eis, com efeito, a visão que, segundo Marinho, culmina todo o processo de conhecimento, a visão com que o nosso pensador conclui a sua própria Teoria.
Culminando nessa visão, inicia-se o processo de conhecimento com a “emergência do amor e da fé”. Da fé, desde logo, porque, como escreveu Leonardo Coimbra na esteira de Pascal: “‘Il faut parier…’ por Deus ou contra Deus, pelo significado ou pela insensatez do mundo.”. Do amor, igualmente, porque, revelando-se através dele esse “sentido do que no seio da cisão é para absolutamente unir”, “o amor aparece [já], com efeito, para além da consciência da cisão” e, nessa medida, para além da dor: “a dor está aí, em tudo quanto nos aparece como negativo, para ser transcendida pela sabedoria do amor”. Daí que Marinho nos diga ainda que “o amor é assim unidade, plenitude, absoluto antecipado”. Radica aqui, para o autor da Teoria, “o alto interesse do amor para o filósofo”: “O alto interesse do amor para o filósofo é que ele representa a verdade antecipada. O que o amor desde os primeiros momentos em que o ser é consciente de si apreende e exprime é aquilo mesmo que a razão laboriosamente irá compreender e explicar.”; “o amor é uma experiência essencial do homem, cuja meditação atenta a autêntica filosofia não pode dispensar”. Eis, precisamente, uma das teses essenciais da visão filosófica de Afonso Botelho, que, em consonância com Marinho, defendeu, de forma eloquente, que “enquanto se não entender a singularidade do amor homem-mulher pouco ou nada se sabe da universalidade do amor divino”.
Daí, nomeadamente, a sua valorização da história de Pedro e Inês, paradigma por excelência da “singularidade do amor homem-mulher” – ainda nas palavras de Afonso Botelho: “Para Fernão Lopes, que viveu mais próximo do que nós do rex e da res, a sua substância é verdadeiramente pétrea, nos dois sentidos evidentes da palavra: é resistente e conserva o calor./ Aos olhos do cronista, Dom Pedro, duro e compacto na aplicação da lei, recebe o fogo do amor e conserva-o para além do tempo que é dado ao homem conservar seus sentimentos. O fogo não nasce dele, vem de fora, da ígnea amada, mas entra em sua intimidade e mantém-se efervescente e vulcânico, como lava no interior da Terra./ A história geral descreve os fenómenos pelo lado de fora, mas à crónica cabe aproximar-se da matéria descrita para lhe captar sentidos e intenções. No caso de Pedro o Cru, seu cronista disse o suficiente para o determinarmos como o amante mais tenaz que o tempo, mais tenaz que a própria saudade humana, e que pela dureza e durabilidade, terá a missão de fundar o reino perpétuo do amor homem-mulher./ Camões prefere começar a narrativa por Inês, posta em sossego, ígnea, porque, aparentemente, só se consome. Mas o centro de toda a construção camoneana é o amor, que recolhe em si a doçura e a fereza partilhadas. Amor divino que, porém, aos olhos humanos, engloba as qualidades mais extremas.”.

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