Alexandre Banhos
Campo.
(excerto)
Comunicação na XI semana de filologia na USP (Universidade de São Paulo) 9 a 13
de maio de 2016
As Origens da
língua portuguesa
O português nasceu na Galiza, mas esse
espaço denominado Galiza, pouco tem a ver com o território que atualmente
usufrui esse nome, pois essa Galiza histórica e originária entendia-se do mar
Cantábrico até o Tejo.
O contexto
político prévio à fratura da Galiza
Para entendermos o contexto da ruptura
entre o norte e o sul do rio Minho, cumpre dar uma olhadela ao reino de Afonso
VI de Leão.
O segundo dos matrimônios de Afonso VI, o
de mais duração, é dizer o mais estável, pois durou até o falecimento da esposa
e rainha no 1093, foi com Constança de Borgonha (do que sobreviveu a filha
Urraca); este matrimonio levara-o a ter certa estabilidade de relações com
Borgonha, e que para a corte viessem desde Borgonha vários cavaleiros, tais
como os nobres borgonhóis Raimundo e Henrique.
No ano 1090, o Rei Afonso casou a sua filha
e herdeira Urraca, com Raimundo de Borgonha, matrimonio ao que se garante o
reino da Galiza à sua morte.
Raimundo muito faz por agradar ao Rei,
fortalece a cidade estratégica, por estar na fronteira sul, de Ávila; e dirige
continuas guerras contra o domínio muçulmano, especialmente no sul da Galiza,
alargando o território. Raimundo incluso tentou
tomar Santarém. Porém ele no ano 1107 faleceu.
Outro nobre borgonhão que viu à corte,
primo do anterior, vai ser Henrique, e a quem o rei casa no ano 1095 com uma
outra filha sua, Teresa, uma menina de uns 10 anos. Esta filha era o resultado
dumas suas relações com uma moça de nome Jimena Nunes.
Henrique é posto sob as ordens de Raimundo
e encarregado de guardar a extrema sul da Galiza. Sob Raimundo, a extrema da
Galiza alcançara já o rio Tejo; e frente a tradicional historiografia
portuguesa, há que afirmar que ele não teve nunca o título de conde de Portucale.
Esse condado tinha sido suprimido, já havia algum tempo, pelo rei Garcia no
1071, após a derrota do último dos seus condes Nuno Mendes, na batalha do
Pedroso.
Conflito
Compostela Braga: A Compostela de Gelmirez não aceita a condição de primaz de Braga, e por tanto o
seu submetimento a Braga, e entra em
conflito com ela. Nisso esta a isca da fratura da Galiza e da independência e
nascimento do reino de Portugal.
Braga era o cerne da Galiza, desde que os romanos a
converteram na capital da província, e os Suevos na capital do seu estado. Era
a cabeça da Igreja e das ordens religiosas.
Após a invasão muçulmana da península, delega-se o poder eclesiástico de
Braga na diocese de Lugo, como lugar mais seguro, e que ficava mais fora do
controle muçulmano. O Rei Garcia da Galiza, também se encarregou de que Lugo
devolvesse os poderes a Braga. Ele restaura a cidade, e converte-a de novo no
cerne do reino. De essa política de Garcia não gosta a apostólica sede que
nesse momento estava nascendo.
O bispo Gelmirez tece uma rede de
poder, com o ouro que as peregrinagens levam a Compostela -e apoios, na sua
condição de Sé apostólica-.
Quando em 1107 falece Raimundo de Borgonha,
quem estava destinado por Afonso VI a ser o rei da Galiza, oferece a sua
proteção e acolhida a Urraca e ao seu filho. Urraca também recebe o apoio da
poderosa casa dos Trava aliada de Gelmirez.
Em 1109, falece o rei Afonso VI, e
Compostela imediatamente age para que ela seja reconhecida como Imperatriz
da Galiza, e também dos demais territórios que estavam sob a coroa do seu pai,
mas o seu pai antes de morrer arranjara o matrimonio da sua filha com Afonso o
Batalhador de Aragão, que o exige com as armas, e até ameaça Compostela.
Esse matrimonio vai resultar na perda de influência de
Compostela/Gelmirez, e ele reage: -Tinha com ele, na sua condição de tutor, a
Afonso Reimundes, o filho de Urraca e Raimundo de Borgonha-. E -apoiando-se na vontade de Afonso
VI, responde, coroando em Compostela em 1111, como rei da Galiza e Toledo, a Afonso o filho de Urraca, -como Afonso VII-
que era uma criança -duns 7 ou 8 anos.
Neste rei, pretende achar Gelmirez um
poderoso instrumento para as suas ambições peninsulares, nas que Compostela
aspira a ser a cabeça, além da Galiza, da península toda se puder.
Era tal o desejo de Compostela de estar a
cima de Braga, que Gelmirez compra com ouro ao papado a mitra arzobispal
e o submetimento a ele (Compostela), de parte das dioceses que
respondiam ante Braga, mas nem
assim lhe chegava para ganhar o respeito e o prestígio a que aspira.
No ano 1102 Braga conseguiu a condição de
arcebispado, e além disso conseguiu de Henrique de Borgonha, que tinha direitos
sobre a cidade, que estes lhe fossem entregues na sua totalidade a ele como
arcebispo de Braga.
Gelmirez responde a isso e organiza nesse
ano, o assalto noturno a Sé de Braga e a outras igrejas da localidade, para
roubar e trazer para Compostela os venerados restos dos santos que ali estavam
-Frutuoso, Susana, Cucufate, Silvestre e alguns outros (A Frutuoso e Susana
mandou Gelmirez erguer sendas igrejas em Compostela). Tentava assim. de ganhar
o prestígio da vero caput para Compostela.
O arcebispo de Braga é perseguido por
Gelmirez utilizando o poder real
A viúva de Henrique de Borgonha, Teresa,
que mora em Guimarães, tem uma posição favorável à Gelmirez, além disso
relaciona-se com o Conde de Trava -outro aliado de Gelmirez, que era o
responsável de Viseu e Coimbra, e localidades mais ao sul.
Em 1120, sob a direção do arcebispo de
Braga, o menino Afonso Henriques que tinha na altura uns doze anos, tomou uma
posição política oposta à da mãe.
Como resultado dessa posição, o arcebispo
de Braga Paio Mendes é forçado a deixar Braga e ir desterrado, mas levou
consigo o infante, do que era tutor. Em 1122 armou-o cavaleiro em Tui. Pacificadas as tensões, voltará de arcebispo
para Braga.
A Sé de Braga usa o seu pupilo Afonso
Henriques, e Gelmirez a Afonso VII, na luta incansável que travam. Em 1127,
Afonso Henriques vai ser cercado em Guimarães, para que se submeta ao rei.
Porém ao estar montando o cerco, sabe que faleceu a sua mãe Urraca rainha de
Leão e que a ele corresponde esse reino, pelo que abandonará o cerco. Para
Afonso VII, ser rei em Leão, e proceder a recuperar a coroa de Castela, que
usufruía Aragão, passa a ser central. Com isso, vai por fim libertar sua
pessoa do controle estremado a que estava submetido por Compostela, e cada
dia vai ficar mais longe e menos interessado nesses assuntos, pois Afonso VII ao título de rei da Galiza e
de Toledo acabara somando, os reinos de Leão e de Castela, e o centro dos seus
interesses deslocara-se geograficamente, sendo isso também determinante na
fratura da Galiza e o nascimento do reino de Portugal.
A
batalha de São Mamede
Uns meses depois estalam de novo as tenções
entre Afonso Henriques, que na altura tinha já uns 20 anos, e sua mãe. Em 1128,
enfrentam-se tropas de Teresa e Fernão Peres de Trava, com as de Afonso
Henriques na batalha de São Mamede (batalha na que participaram uns poucos
centos de homens, tendo as tropas do nosso rapaz, a bênção e o guia do bispo de
Braga, que achegou homens, saído vitoriosas – o que consagrou a sua autoridade
no território portucalense
O arcebispo, consciente da importância das
forças que ameaçavam o poder de Afonso Henriques, guiou a este no governo, e
fez esforços em negociações junto da Santa Sé, com um duplo objetivo: por um
lado, alcançar a plena autonomia da Igreja de Braga, recuperando dioceses das
que perdera o controle (O Pio Latrocínio foi de ajuda). e assim recuperar a sua
condição de igreja metropolitana e primaz, e deixar de estar submetida a
Compostela, e pelo outro lado, obter o reconhecimento do espaço de Portucale
como um reino. E teve sucesso. No momento oportuno o arcebispo de Braga faz rei
a Afonso Henriques.
O nascimento do
galaico-português ou galego-português para a história da língua portuguesa.
Em Portugal começa-se a lhe dar à língua o
nome do reino, de jeito geral, ainda que não unânime, durante o reinado de D.
Afonso III (1248 -1279), num processo que aliás é muito frequente por todo
lado.
Carolina Wilhelma Michaëlis de Vasconcelos, foi a primeira estudiosa
moderna da história da língua portuguesa, com rigor científico. Ela com Leite
de Vasconcelos revolucionaram o estudo histórico da língua portuguesa, e
criam o termo galego-português e/ou galaico-português.
Qual a razão de usar esse
nome, em vez de chamar à língua de portuguesa (como recomenda Lidley Sintra,
quando fala de português antigo), pois o nome nada variava sobre a sua
natureza, e a realidade de estarmos ante uma língua única, como se passa na
mesma península com o castelhano/espanhol.
Pois isso foi por uma razão muito
simples, e que se rastreja na sua correspondência, é o processo de desbotar o
esforço que suponha ligar o nascimento de Portugal a uma outra realidade
jurídica, o qual, e não é preciso ser muito exaustivo no exame, resultava
-e ainda resulta- muito problemático e esquisito, a particular historiografia
portuguesa, que no processo de virar as costas a Castela, com grande
inteligência e sucesso, faz nascer Portugal dum ato praticamente milagroso
ligado a santa figura de Afonso Henriques, e criando umas diferenciações entre
os moradores a norte e a sul de Minho, que em realidade carecem de qualquer
base histórica.
Neste momento, já aceite
universalmente, salvo pela ideologia espanholista, que galego e português são
nomes históricos de uma mesma realidade. Não deveria ter nenhum problema a filologia lusófona de chamar de português
às formas da língua que se deram em qualquer momento da sua história.
Hoje a Academia Galega (AGLP)
recomenda que à língua, que se fala na atual Galiza -a que usufrui o nome histórico-
se lhe chame português da Galiza em paralelo com o português do
Brasil, o português da Angola, o português do Moçambique, o português de
Portugal etc etc. Pois a língua portuguesa, como toda língua internacional,
estendida por todos os continentes, é única como tal língua, mas com a
diversidade interna da sua cor local, o mesmo que se passa com todas as línguas
de grande extensão geográfica. Ainda que isso é certo que faz conflito a
Castela/espanha, já que para eles o português é língua estrangeira e o galego
“modalidade espanhola”, com tudo o que isso significa
2 comentários:
DATA VENIA - e com respeito e humildade - cumpre-me opinar classificando o texto de
fraca qualidade histórica - ver parágrafo em que declara Afonso Henriques filho de Urraca - e ainda de menor nível ortográfico e estilístico, pelo que não engrandece o Movimento Lusófono, que se pretende de alto nível.
Analisando a frase: "O (P)ortuguês foi português(,) até quando ele foi chamado de galego", ficamos SEM SABER se pretende DIZER que o IDIOMA "português deixou de O ser quando foi chamado de galego", ou, pelo contrário, se continuou a sê-lo até MESMO "quando ELE foi chamado de galego".
Esta modesta análise crítica tem - apenas e só - o objetivo de chamar a atenção sobre um texto que SINCERAMENTE NÃO me agradou com vistas a - se for o caso - uma tomada de posição em prol do PRESTÍGIO do Movimento Internacional LUSÓFONO.
Cordialmente, José Verdasca dos Santos - Presidente da Ordem Nacional dos Escritores.
Começo por dizer que, embora dispondo, há muito tempo, desta passibilidade de comentar, fui adiando sucessivamente, na expetativa de me sentir mais à vontade para tal, em condições mais legítimas... mas a indecisão tem-se eternizado, o que não me fez esquecer que tem toda a razão quem, no respeito pelo lugar que ocupa, não podia olvidar o que, evidentemente, notou naquele texto que, além de erros deturpantes da história, bem denota falta de conhecimento da boa "Língua Portuguesa", e, consequentemente, ignorância do NAO, independentemente das "fragilidades" deste.
(Embora sem fazer doer, até parece haver razão para "verdascada" por Satos.
Com os melhores cumprimento,
Manuel Fernandes
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