A Cultura deveria ser uma área
transversal por excelência. Assim, havendo um Ministério da Cultura, como
defendemos, este deveria agir em estreita convergência com outros –
nomeadamente: o da Educação e Ensino Superior, o dos Negócios Estrangeiros e
mesmo com o da Economia, dado todo o potencial económico desta área.
No plano cultural, dever-se-á
privilegiar a relação com os restantes países e regiões do amplo espaço de
língua portuguesa, procurando promover uma comum cultura lusófona –
necessariamente plural e polifónica, ou, para usar um termo que tem tudo a ver
com a nossa história, “mestiça”.
Outra das apostas deveria ser
a defesa do nosso património – dentro e fora das nossas fronteiras (sendo que,
neste último caso, isso teria que ser feito, obviamente, em concertação com as
autoridades respectivas). Para tal, dever-se-á, sem complexos, recorrer a
apoios privados, sob a forma de patrocínio e/ou mecenato, sendo certo que,
sobretudo nesta área, o Estado terá que ter sempre o papel primacial, desde
logo na seriação das mais acertadas prioridades.
A valorização, sem complexos,
da nossa história não deve passar apenas pela preservação do património. Sendo
o cinema, como se sabe, uma das formas de expressão cultural com maior impacto
nos nossos tempos, o Estado deveria, por exemplo, apoiar a realização de filmes
sobre a nossa história, promovendo assim uma maior consciência
histórico-cultural entre todos os portugueses, particularmente deficitária
entre os mais jovens.
Daí, também, a necessidade de
uma estreita convergência entre as áreas da Cultura e da Comunicação Social. É
escandaloso que o chamado “Serviço Público de Televisão” continue a desprezar,
de forma tão flagrante, a nossa Cultura. A Rádio Televisão Portuguesa deveria
passar a ser pois tutelada pelo Ministério da Cultura, de modo a que o “Serviço
Público de Televisão” passasse a ser realmente cumprido. Nesta área, os canais
da RTP África e da RTP Internacional devem não só ser mantidos como reforçados,
à luz dessa aposta estratégica na convergência lusófona.
No espaço europeu e ocidental,
devemos, pois, resistir a uma uniformização cultural que tem feito tábua rasa
das especificidades culturais de cada um dos países e regiões, em prol da
afirmação hegemónica da cultura anglo-saxónica em geral e norte-americana em
particular. A própria União Europeia deveria ter, nesta frente, um papel bem
mais afirmativo, defendendo, com muito maior vigor, as particularidades da
nossa cultura. Também aqui devemos, em suma, articular o eixo europeu e o eixo
lusófono: só assim, defenderemos, numa visão de futuro, a nossa cultura.
2 comentários:
Caro Renato
Pois aqui estão algumas vias, mas na minha opinião, torna-se necessário que a lusofonia faça mais pela cultura comum. A dispersidade é enorme e a unidade que se tenta aqui ou ali é movida quase sempre por interesses económicos e não culturais. Acontece no teatro, na música, na literatura...
Há uma cultura unitiva dos povos lusófonos, mas na generalidade, quando é pensada em conjunto acentua-se a sua componente distintiva e assim é difícil chegar a uma compreensão mútua.
Os argumentos em que se suportam as reflexões culturais dos povos lusófonos são quase sempre importados de tradições que nada têm a ver com ela - como a da europa culta ou dos EUA capitalistas.
Era necessário uma plataforma que recolhesse e desse a conhecer os diversos projectos comuns na área cultural, todos eles... pois se as figuras de relevo não têm falta de visibilidade e portanto o que se divulga é sempre mais do mesmo - aquilo que ´we sobejamente conhecido -, os projectos locais que verdadeiramente interessam ás pessoas concretas, porque nem têm à sua frente gente mediática, nem meios de divulgação, continuam no anonimato. E é na multiplicação unitiva destes pequenos e parcos projectos, abandonados à carolice de um punhado de visionários, que um projecto cultural comum poderá encontrar as raízes distintivas da sua universalidade.
ab
Artur Manso
Caro Renato
O texto é abundante para ser comentado à letra.
Cultura e Património não se podem limitar a ministérios, nem a privados ..., são a base que definem as comunidades construidas pelos povos. Certo é que a mundialização desordenada muito tem contribuido para o seu desaparecimento.
A cultura e o património ao longo dos milénios foram construidos pelas comunidades, de diferentes povos do mundo, que trocaram saberes, língua, religião, negociaram e ainda hoje muitas comunidades sobrevivem das trocas.
A sustentabilidade das comunidades passa pela defesa das culturas e do património, pelo respeito multicultural, passado pelas gerações em casa, na escola, nas instituições sociais, religiosas, politicas, nas empresas, nas autarquias, reguladas com o apoio de Fundações, Governos, U.E e UNESCO.
Só assim nesta dimensão se pode fortificar a cultura e defender o património como pertença de todos os povos.
Luisa Timóteo
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