- Como tens
visto a guerra na Ucrânia?
- No início, com perplexidade. Pensava que a
Rússia iria apenas procurar ocupar as regiões do leste da Ucrânia que em
Fevereiro haviam declarado a sua independência – à semelhança do que havia
acontecido na Crimeia. Não esperava de todo esta guerra total à Ucrânia.
Manifestamente, a Rússia julgava que o regime ucraniano iria cair…
- E como avalias os objectivos de Putin nesta guerra?
- Antes de ter começado esta guerra, Putin
defendeu que a Ucrânia não existia. Um erro de avaliação total: se não existia,
passou a existir como nunca… Se isto fosse um mero jogo de xadrez, diria que
Putin provou ser um péssimo jogador. Um bom jogador de xadrez procura ganhar
terreno passo a passo, peça a peça, não de uma vez só. Esse é sempre meio
caminho para a derrota…
- E como se poderá sair desta situação?
- Essa é a grande questão. Parece-me evidente
que, se fosse possível voltar atrás, a Rússia não teria iniciado esta guerra –
por mais que, obviamente, não o admita. Mas a história não é um jogo de
computador – não se pode voltar atrás. Com todo este massacre de ucranianos,
para além de todos os gigantescos danos materiais, a Ucrânia também não pode
aceitar um acordo em que a Rússia surja como vencedora. Por outro lado, o
regime russo também não aceitará ser derrotado – e é de temer que, caso esse
cenário de derrota se torne iminente, o exército russo seja ainda mais brutal…
A única solução passaria pela queda do regime russo – mas, pelo mesmo para já,
isso não me parece previsível. Parecemos mesmo estar num beco sem saída ou,
pelo menos, num impasse. Obviamente, mais ou cedo ou mais tarde esta guerra irá
acabar, nem que seja por exaustão de uma ou de ambas as partes. Mas as suas
consequências, estou convencido disso, prolongar-se-ão por várias décadas…
- E haverá alguma mudança de consciência a nível mundial?
- Infelizmente, não creio que esta guerra vá alterar a consciência mundial, desde logo porque a percepção da guerra é muito diferente nas diversas regiões do mundo. Estou, aliás, a coordenar um Congresso, a decorrer a 20 de Dezembro deste ano, em que o tema será esse: “Percepções e Impactos da Guerra da Ucrânia no Espaço da Lusofonia”. Na África lusófona, em Timor-Leste, no Brasil, esta é uma guerra muito distante, meramente um assunto entre europeus, por mais que as suas consequências sejam realmente globais, como se está a verificar, aos mais diversos níveis…
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