Andam mil e uma vozes a clamar
contra a nossa “elite” político-económica por causa dos negócios com Isabel dos
Santos, mas, por uma vez, a nossa “elite” (mantenhamos as aspas) está
relativamente inocente.
Se não, vejamos, sem qualquer
cinismo: Isabel dos Santos é, como se sabe, filha de José Eduardo dos Santos,
até há pouco tempo o omnipotente Presidente de Angola; durante todo esse tempo,
Isabel dos Santos foi, por isso, muito mais do que uma Embaixadora; foi a máxima
representante político-económica do Presidente de Angola, o mesmo é dizer, do
MPLA, o mesmo é dizer, do próprio regime angolano.
Face a essa condição de Isabel
dos Santos, fechar-lhe a porta na cara seria de um paternalismo intolerável.
Sim, em privado, até poderíamos – e deveríamos – pensar que o “seu” dinheiro
era suspeito. Mas, tendo o aval do próprio regime angolano, como o dizer em
público? Como lho dizer cara a cara, sem com isso afrontar a soberania de
Angola?
Se algum “pecado” cometeu a nossa
“elite” político-económica, foi apenas
o “pecado original”. Sim, falamos do modo como se processou a “descolonização
exemplar”. Alegadamente em nome da liberdade, Portugal permitiu (para dizer o
mínimo) regimes de partido único em todos os países que descolonizou. A partir
daí, deu-se o inevitável: a apropriação estatal dos meios de produção acabou
por beneficiar a elite dirigente. Angola foi apenas mais um exemplo – ainda
que, reconheçamo-lo, um exemplo particularmente extremado.
Mas, face a isso, pouco mais
haveria a fazer. A história não é um jogo de computador – não se pode voltar
atrás e recomeçar de novo até acertamos na melhor opção. Após esse “pecado
original”, reiteramo-lo, não nos cabia desqualificar os representantes
políticos e económicos de Angola. Só o próprio regime angolano o poderia fazer,
como agora o fez, relativamente a Isabel dos Santos. Por isso, também só agora
a nossa “elite” político-económica pode, enfim, fechar-lhe a porta na cara, sem
que esse gesto constitua qualquer afronta a Angola.
Renato Epifânio
Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono
2 comentários:
Se Isabel dos Santos não tivesse investigado e revelado o modo obscuro como se fazia a venda do petróleo da Sonangol antes de assumir a gestão da empresa nada disto lhe estaria a acontecer.
Quanto à gigantesca máquina posta em marcha para a apontarem como culpada, isso revela bem o risco que houve e ainda há de se vir a conhecer a verdade.
Independentemente de um ou outro facto que possa ser a ela imputado, isso não é nada comparado com as práticas que havia naquela empresa antes da sua tomada de posse como gestora.
Paulo Almeida.
Estimado Renato,
nunca deixo de ler os artigos publicados, que guardo na memória acrescentado mais outros pensamentos de opinião.
Obrigado pelas valiosas opiniões dentro do tempo.
Sem dúvida que na política cabe tudo ainda que não prevista tanta ganância ao lado de tanta pobreza.
" e as crianças Senhor,
porque lhes dá tanta dor,
porque padecem assim"
Abraço fraterno
Luisa Timóteo
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