No refluxo das comemorações do
centenário do nascimento de Agostinho da Silva, que decorreram durante todo o
ano de 2006 e que se estenderam a (quase) todo o espaço lusófono, deu-se uma
estranha “conjugação cósmica” (ainda que de responsabilidade exclusivamente
humana) que levou a um quase absoluto bloqueio de novas edições de textos
agostinianos, o que foi tanto mais absurdo porquanto havia um grupo de pessoas
(que integrávamos) disponível para continuar a trabalhar na edição dos seus
inéditos.
Nesta última década, saíram
apenas alguns títulos sobre Agostinho da Silva – nomeadamente: de António
Cândido Franco (“O Estranhíssimo Colosso: uma biografia de Agostinho da Silva”,
Quetzal, 2015) de Risoleta C. Pinto Pedro (“A literatura de Agostinho da Silva:
essa alegre inquietação”) e de Pedro Martins (“A liberdade guiando o povo: uma
aproximação a Agostinho da Silva”) – estes dois últimos saídos em 2016 (Zéfiro/
Colecção Nova Águia). Na mesma colecção saiu, ainda em 2016, o obra “A última
entrevista de imprensa de Agostinho da Silva”. De resto, para além de alguns
excertos da segunda parte (inédita) da “Vida Conversável” que têm sido
publicados na Revista “Nova Águia”, nada mais.
Por tudo isso, não podemos
deixar de saudar efusivamente a recente publicação da obra “Páginas esquecidas
de Agostinho da Silva” (Quetzal, 2019), coordenada por Helena Briosa e Mota, uma
agostiniana particularmente qualificada, que já havia sido responsável pela
organização dos volumes “Textos Pedagógicos” (dois volumes) e “Biografias” (três volumes), das “Obras de Agostinho da Silva” (Âncora/
Círculo de Leitores, 1999-2003), para além de co-autora do livro “Uma introdução ao estudo do pensamento
pedagógico do Professor Agostinho da Silva” (Hugin, 1996).
Não sabemos se, por si só, o lançamento
desta obra irá reverter o bloqueio editorial de textos agostinianos que, a
manter-se, não poderá deixar de significar a segunda morte de Agostinho da
Silva. Por si só, provavelmente não, tal o alcance dessa estranha
“conjugação cósmica” (ainda que, reiteramo-lo, de responsabilidade
exclusivamente humana). Que seja, pelo menos, a pedrada no charco que leve
algumas pessoas a reverem a sua posição. É verdade que se pode dizer que,
comparativamente, Agostinho da Silva nem é dos autores mais esquecidos. Mas,
havendo ainda (significativos) inéditos seus por publicar, seria um crime de
lesa-pátria (lusófona) deixar esses textos para sempre enterrados numa gaveta.
É mais do que tempo de a (re)abrir.
Também no Jornal Público:
https://www.publico.pt/2019/04/25/opiniao/opiniao/segunda-morte-agostinho-silva-1870468
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