Representantes de 31 instituições de ensino superior chinesas estiveram no Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM para debater práticas e preocupações sentidas no processo do ensino do Português como língua estrangeira. Carlos André sublinhou que com esta reunião é possível definir um campo de acção para o futuro que passará por uma comunicação mais estreita e uma colaboração académica e científica mais próxima
O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM) recebeu responsáveis pelo ensino do Português de 31 instituições de ensino superior do interior da China, entre elas a Universidade de Comunicação de Pequim, a primeira a leccionar a Língua Portuguesa, desde 1960, representada por Diana Zhang.
“Conversámos sobre a actividade do Centro no que respeita ao ensino do Português no Interior da China, sobre as acções de formação, produção de materiais, visitas feitas às universidades chinesas, apresentámos a equipa e perspectivámos o futuro, ouvindo a opinião dos professores chineses”, explicou Carlos André acrescentando que foi a primeira vez que se reuniram tantos representantes de instituições de ensino superior chinesas que ensinam Português.
Os docentes do Continente “partilharam connosco as suas preocupações em relação ao futuro”. “Estamos claramente a mudar a matriz no sentido positivo, porque não se trata apenas de produzir materiais para o ensino do Português ou de dar formação a professores. Trata-se de dar um passo mais longe, que é apoiar estes professores nas suas carreiras académicas. Já estamos a lidar com professores universitários de carreira. Têm teses de mestrado e doutoramento para fazer, artigos para publicar e precisam de apoio”, sustenta o director do Centro Científico e Pedagógico da Língua Portuguesa.
Além disso, na reunião “ficou muito claro que face a um xadrez desta dimensão” é necessário “melhorar o sistema de comunicação e de compartilhar muito mais as actividades”, destacou Carlos André. “É um passo importante a dar em frente, perceber como melhorar o sistema de comunicação e criar um sistema de relação entre todos que seja francamente positivo e sobretudo eficiente, tendo em conta que estamos todos no mesmo país”. Perante a necessidade de fomentar a comunicação, Carlos André defende que reuniões deste género se realizem todos os anos.
O diálogo abordou ainda questões como a criação da revista científica “Orientes do Português”, cujo primeiro número será publicado no final deste ano, e um novo modelo de formação que resulta do protocolo assinado entre o Camões – Instituto para a Cooperação e a Língua e o IPM.
Além disso, foi anunciada a continuidade do modelo de publicações do IPM. “Como se sabe, publicámos 10 livros em 2017, temos oito programados para 2018 e, finalmente, anunciámos um passo fundamental que é a transformação total do nosso sistema de presença online por forma a que estes nossos livres sejam todos colocados ‘online’, como livros vivos, que vão recebendo permanentemente inputs, em que um livro não é um objectivo definitivo mas sempre em transformação e sempre susceptível de ser actualizado”, frisou Carlos André.
Na mesma linha de pensamento, os professores que leccionam nas universidades chinesas passaram a ser considerados membros da equipa do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, na medida em que os materiais passam a ser produzidos em regime de “co-autoria”.
Um crescente interesse
A reunião foi também uma oportunidade para os docentes que exercem funções no Continente esclarecerem dúvidas e expor os problemas que enfrentam. Catarina Xu, responsável pelo departamento de português da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, explicou que na instituição de ensino onde lecciona as turmas têm mantido um número de alunos regular, cerca de 20 por ano, na Licenciatura, o que não significa que não haja mais jovens interessados.
“Queremos controlar o número de alunos admitidos para controlar a qualidade do ensino do Português. Estamos a ver uma tendência grande de procura da Língua Portuguesa. Há mais de 10 anos havia 10 ou 11 universidades com o curso de Português. Agora contamos quase 40 instituições. Há um crescimento da procura”, frisou a docente.
“Com a eleição do ex-primeiro ministro português, António Guterres, [para Secretário-geral da Organização das Nações Unidas], todos nós, mesmo chineses, queremos que a Língua Portuguesa seja uma das línguas de trabalho da ONU. Isso reforça o desejo de aprender Português na China”, destacou Catarina Xu.
Diana Zhang pinta um quadro semelhante. “A área do ensino do Português no Continente chinês enfrenta grandes desafios. Um deles, como já viram, é o facto de o corpo docente ser muito jovem. Nos últimos anos cresceu o número de universidades que ministram o curso de Português, mas faltam recursos humanos no sentido do corpo docente”, alerta a professora de Pequim.
Neste sentido, as acções promovidas pelo IPM são benéficas. “O IPM forneceu cursos de formação para professores o que nos deu uma oportunidade para aprofundar o conhecimento e nos ajudou muito nas práticas de ensino. Assim, os professores jovens conseguem enriquecer as suas competências de ensino”, destacou.
Em jeito de conclusão, Carlos André sublinhou que o aumento exponencial do número de universidades que ensinam Português “não aconteceu em mais lado nenhum”. “Vai-nos exigir cada vez maior empenho e diversificação de tarefas porque, ao mesmo tempo que já há um número considerável de docentes que vão fazendo doutoramentos e, portanto, que atingem um nível avançado no que diz respeito à competência científica e qualidade académica, surge uma quantidade grande de docentes muito jovens que precisam de outro tipo de apoio, ao nível da formação, preparação, porque sabem falar Português mas precisam de muito no que respeita ao ensino do Português como língua estrangeira”, salienta o director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa.
Carlos André destacou ainda que o organismo que dirige já formou 290 docentes e forneceu mais de 500 horas em acções de formação contínua. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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