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MIL: Movimento Internacional Lusófono | Nova Águia


Apoiado por muitas das mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil, o MIL é um movimento cultural e cívico registado notarialmente no dia quinze de Outubro de 2010, que conta já com mais de uma centena de milhares de adesões de todos os países e regiões do espaço lusófono. Entre os nossos órgãos, eleitos em Assembleia Geral, inclui-se um Conselho Consultivo, constituído por mais de meia centena de pessoas, representando todo o espaço da lusofonia. Defendemos o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço lusófono – a todos os níveis: cultural, social, económico e político –, assim procurando cumprir o sonho de Agostinho da Silva: a criação de uma verdadeira comunidade lusófona, numa base de liberdade e fraternidade.
SEDE: Palácio da Independência, Largo de São Domingos, nº 11 (1150-320 Lisboa)
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NOVA ÁGUIA: REVISTA DE CULTURA PARA O SÉCULO XXI

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Desde 2008"a única revista portuguesa de qualidade que, sem se envergonhar nem pedir desculpa, continua a reflectir sobre o pensamento português".

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"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

"Trata-se, actualmente, de poder começar a fabricar uma comunidade dos países de língua portuguesa"

Nenhuma direita se salvará se não for de esquerda no social e no económico; o mesmo para a esquerda, se não for de direita no histórico e no metafísico (in Caderno Três, inédito)

A direita me considera como da esquerda; esta como sendo eu inclinado à direita; o centro me tem por inexistente. Devo estar certo (in Cortina 1, inédito)

Agostinho da Silva

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A Visão de José Marinho do Cristianismo


Num gesto que alguns poderão considerar inspirado em Joaquim de Flora, prefigurou o filósofo português José Marinho (1904-1975) o advento de uma “religião do Espírito”, que caracteriza ora como uma ultrapassagem da “religião cristã”, ora como a própria “religião cristã” na sua mais apurada expressão. Eis, decerto, a consideração que António Quadros (1923-1993) subscreveria, não tivesse ele defendido, na sua obra Portugal, Razão e Mistério que a doutrina das três idades “em nenhum lugar deitou raízes tão fundas como no nosso país e na nossa cultura”.
Não só, como faz questão de frisar, no nosso país e na nossa cultura. Daí, desde logo, a sua referência à Divina Comédia de Dante que, como salienta, é mesmo “por alguns considerada como apocalipse joaquimita”. Daí ainda a sua referência a Lessing e a Comte – cuja lei positivista dos três estados “dir-se-ia uma imitação a contrario sensu da teologia da história do Abade de Flora” –, daí ainda a sua referência a Fichte e a Hegel – cuja filosofia da história “pode ser considerada como uma tradução filosófica e moderna da teoria de Joaquim de Flora” –, daí ainda, enfim, a sua referência a Schelling e ao próprio Marx.
Apesar de ter influenciado, de uma forma ou de outra, todos esses filósofos, entende António Quadros que é “na obra dos filósofos que dominaram os dois últimos séculos da nossa cultura” que a influência de Joaquim de Flora mais se faz sentir, exemplificando essa sua tese com a referência que faz às obras de Agostinho da Silva, Álvaro Ribeiro, Fernando Pessoa e Jaime Cortesão – o primeiro “pela via de uma metanóia mítica e mística”, o segundo “pela via filosófica e pedagógica”, o terceiro “pela via alquímico-poética”, o quarto “pela via historiográfica” (a respeito de Jaime Cortesão, ver em particular: António José da Silva, Naturalismo e Religiosidade em Jaime Cortesão; nesta obra, defende-se que a grande influência espiritual de Jaime Cortesão foi a de Francisco de Assis).
Não contestando qualquer desses exemplos que nos dá António Quadros – ainda que não na mesma medida, concordamos com todos eles (a acrescentar algum nome, acrescentaríamos, de imediato, o de Raul Leal, não tivesse sido ele, nas palavras de Pinharanda Gomes, “irmão espiritual de Joaquim de Flora” – para além de “companheiro visionário de Bandarra, ouvinte exaltado de António Vieira e confrade de Morus e Campanella” –, tendo chegado inclusivamente a imaginar-se “a encarnação de Henoch, profeta do Espírito Santo”) –, não cairemos, contudo, aqui na tentação – a nosso ver, demasiado fácil – de acrescentar a esta série o nome de José Marinho.
Não porque não existam algumas efectivas afinidades – a começar nessa prefigurada “religião de Espírito”, enquanto religião sequente à “religião do Pai” e à “religião do Filho”, enquanto “religião que nos chama para a verdade oculta”. No entanto, José Marinho teve uma excessiva ambivalência de sentimentos relativamente ao cristianismo para que, sem mais, o pudéssemos inscrever na linhagem cristã – por mais que heterodoxa – de Joaquim de Flora.
[Se é que foi mesmo “heterodoxa” – como escreveu Manuel J. Gandra a este respeito, na sua obra Joaquim de Fiore, Joaquimismo e Esperança Sebástica: “Joaquim de Fiore (c.1130-1202) não foi o criador de um corpo doutrinário, traduzindo as reflexões sobre o sentido da história universal e interpretando-a em função do Fim dos Tempos, simplesmente porque essa é, sempre foi, uma preocupação universal. O cristianismo assimilara-a do judaísmo por intermédio do Apocalipse de S. João, mesclando-a, em casos específicos, com contributos pagãos que ora seria fastidioso discriminar.”]
Tal ambivalência de sentimentos relativamente ao cristianismo foi, aliás, uma constante ao longo de toda a sua vida, facto que o próprio Marinho reconheceu, designadamente neste seu testemunho, em que a religião cristã aparece, ao mesmo tempo, valorizada e desvalorizada: “Se, por outro lado, na ordem do conhecimento, eu lutei contra a ameaça que o espírito cristão representa para a filosofia, na ordem do existir autêntico, pelo contrário, desde a primeira juventude, e de uma vez por todas, o cristianismo representou para mim o ímpeto e o exemplo ao qual o homem não pode e não poderá jamais furtar-se.”.
Tal ambivalência de sentimentos relativamente ao cristianismo não abalou, contudo, o posicionamento religioso de José Marinho, posicionamento esse que em múltiplas passagens da sua obra assumiu, designadamente em duas passagens particularmente eloquentes: “Assim dizendo me exprimo como homem religioso. E isso me leva na sequência a dizer que não nasci filósofo. Pois vim à filosofia por íntima necessidade, e não sem alheia ajuda. Nasci homem religioso (...).”; “Se nós definirmos religião como o viver ligado ao absoluto, seja efectivamente seja intencionalmente, devo dizer que esta situação espiritual foi permanente em mim. Abandonei a prática do cristianismo, nunca o sentido central dele. Comecei a filosofar não porque me faltasse a fé, mas porque se me pôs a urgência de esclarecê-la.”.

1 comentário:

João Paulo Barros disse...

Como se sabe, o cristianismo é derivado do judaísmo, surgiu como uma seita judaica, a dos nazarenos lá na cidade de Jerusalém.

A minha exegese dos quatro evangelhos bíblicos é a de que Jesus de Nazaré não tinha a intenção de fundar uma nova instituição religiosa, como é o formato do cristianismo hodierno. Me parece que o que Jesus queria é “tirar a religião institucional do meio” entre Deus e a humanidade. Comparando ao judaísmo e outras religiões existentes naquela época, tenho a impressão de que era para a igreja cristã ser algo mais informal, mais simples. Mas por interesses políticos, o cristianismo se institucionalizou com o tempo. Creio que a religião de Espírito foi a intenção do Pentecostes, quando os apóstolos receberam o Espírito Santo e começaram a espalhar as boas novas.

Mas eu tenho a opinião de que o cristianismo institucional atual (catolicismo romano, ortodoxia e protestantismo) não vai existir para sempre, vai acabar em alguns séculos futuramente, sendo substituída por uma versão mais espiritual e não-institucional de fé cristã.