Tal como as pessoas, há países
que têm “mais mundo” do que outros. No caso europeu, se há país que tem mundo é
a Grã-Bretanha. No caso europeu, só há um outro país comparável: Portugal,
precisamente.
Posto isto, é absurda a
alegação, que muitos têm aduzido, de que a Grã-Bretanha, ao sair da União
Europeia, ficará “isolada do mundo”.
Se há país europeu, a par de
Portugal, com ligações histórico-culturais com todas as partes do mundo é,
reiteramo-lo, a Grã-Bretanha - só a “Commonwealth” agrega mais de meia centena
de países. Isso era assim muito antes da União Europeia existir. E continuará a
ser assim, porventura ainda de forma mais forte, depois da saída britânica da
União Europeia.
Dito isto, não estamos seguros
de que o povo britânico tenha tomado, por maioria, a melhor opção. No plano
económico-financeiro, provavelmente não, como muitas vozes alertaram. Prova de
que afinal – ao contrário do que muitos pensam – as votações não são apenas
determinadas por esse tipo de razões: “No, it’s not the economy, stupid!”.
Mal ou bem, o povo britânico
assumiu uma posição que alguns outros povos gostariam de assumir mas não podem.
O povo grego, por exemplo. Decerto, gostaria, mais do que qualquer outro povo,
de sair da União Europeia. Gostaria mas não pode. E essa é a prova maior da sua
não soberania. É que esta não tem a ver sobretudo com o “querer”. Mais do que o
“querer”, importa o “poder”. A Grécia, por muito que queira, não pode. A
Grã-Bretanha quis (por vontade maioritária da sua população) e pode. E,
provavelmente, quis porque pode.
Uma palavra final sobre o
muito que se disse sobre o referendo que determinou o “Brexit” – nos dias
seguintes, por insuspeitos “democratas”, ouvimos as mais espantosas
considerações: que os referendos não traduzem a verdadeira vontade popular; que
o facto de terem sido as gerações mais idosas a determinar o resultado final
seria injusto para as gerações mais jovens, etc.
Fiquemo-nos por estas duas. Se
há instrumento que permite aferir a vontade popular sobre um determinado
assunto é o referendo – e, para quem discorde desta evidência, só lhe resta
assumir que a vontade popular é irrelevante. Quanto à questão geracional,
poder-se-ia aduzir que as gerações mais idosas, pela sua maior experiência de
vida, serão, à partida, mais sábias – mas não é esse sequer o nosso argumento.
Para nós, o que existe é sempre uma comunidade – constituída por mais jovens e
menos jovens. Mais do que isso: por aqueles que já faleceram e por aqueles que
ainda irão nascer. Respeitar a Democracia é para nós respeitar tudo isso.
Agenda MIL – esta semana, mais
uma sessão de apresentação da NOVA ÁGUIA 17 | 13 de Julho - 19h30:
Café/Livraria Folhas d’Erva (Lisboa)
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