Ao longo da história da
cultura, a exigência de um mundo com sentido culminou classicamente na
afirmação de “Deus”. Lembremo-nos, por exemplo, da célebre aposta de Pascal:
por Deus ou contra Deus, pelo sentido ou pelo sem-sentido do mundo. Esse
parece-nos ser, porém, um falso dilema. Mesmo quando nega “Deus” – mais
exactamente, uma certa concepção de “Deus” –, o humano fá-lo não por renegar o
sentido, mas, ao invés, por uma exigência – por mais equivocado que esteja – de
sentido.
Não é nisso que crentes e
ateus se afastam, se dividem, por mais que, à partida, pareça que o mundo para
um crente – usemos as categorias clássicas, por mais que redutoras e até
equívocas – faça mais sentido do que para um ateu. Para este, como também já
foi amiúde assinalado ao longo da nossa história, há limites intransponíveis de
sentido: a morte, por exemplo, em particular a morte de uma criança, será
sempre um desses casos.
Mesmo para um ateu, porém, a
vida, enquanto existe, não pode deixar de ser essa busca inquebrantável de
sentido. E aqui regressamos a essa relação a nosso ver essencial entre ser e
sentido. Ainda que por vezes da forma mais chã, mais prosaica ou até mais
pervertida, toda a existência, tal como humanamente se realiza, rege-se por
essa busca inquebrantável e insaciável de sentido. Esse é o verdadeiro “Deus”
de todos os humanos, independentemente de o afirmarem ou o renegarem. Eis o que
aqui menos importa. Havendo ou não havendo “Deus”, há sempre, ainda que de
forma não consciente, busca de sentido.
Escusamos aqui de dar exemplos
de como essa busca se dá, por vezes, muitas vezes, da forma mais chã, mais
prosaica ou até mais pervertida: (quase) todos nós temos consciência disso. O
que mais importa para nós salientar é a dinâmica, o ímpeto, a pulsão que subjaz
a essa busca. E por isso terminamos como começámos: o ser em si mesmo é
ilusório, o ser em si mesmo nada é; ele só é, ele só se consuma, na exacta
medida em que adquire sentido. Esse sentido, por sua vez, absolutamente
considerado, pode até ser ilusório – para o seu ser, porém, ele é toda a
verdade, a absoluta, a única verdade: o que lhe dá real sentido.
Nota: sem vocação para
proselitismos – ideológicos ou outros –, assumo aqui que, nas Eleições de 4 de
Outubro, votarei no mais recente partido político português, “NC: Nós,
Cidadãos!”, de que sou Vice-Presidente e Mandatário da Lista apresentada pelo
Círculo Eleitoral de Lisboa, na esperança de que estas Eleições nos tragam algo
de novo, idealmente, um Novo Centro.
Agenda: 29 de Setembro
(Palácio da Independência) e 1 de Outubro (Faculdade de Letras da Universidade
do Porto), às 14h30: Seminário luso-brasileiro “Pensamento, Língua e Literatura”
| 30 de Setembro, a partir das 11h: Seminário “Redenção e Escatologia na
Cultura Portuguesa”, na Universidade Católica Portuguesa (Lisboa); às 20h:
apresentação da Nova Águia 15 no Centro Português de Vigo (Galiza).
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