Por mais que sempre tenda para
o crescimento e a reprodução, a natureza, em si própria, nunca se transcende.
Há uma inércia que a sobredetermina: a inércia da imanência, a inércia da
entropia, a inércia da mesmidade.
Por isso, à medida que subimos
na escala dos seres, o grau de alteridade, de singularidade, cresce
proporcionalmente, crescendo exponencialmente quando se chega ao grau da
humanidade. Na natureza, os seres humanos são, por excelência, aqueles que se
afirmam pela sua singularidade. Quanto mais humano, mais singular, quanto mais
humano, menos indistinto.
Dito isto, enquanto ser também
natural, o ser humano sente também em si a inércia da imanência, a inércia da
entropia, a inércia da mesmidade. O que nos leva às mais diversas
consequências, numa mais fina e funda consideração antropológica: desde logo,
nos planos educacional, social e político.
No plano educacional, ou
pedagógico, e contra as perspectivas mais hegemónicas na pós-modernidade, a
visão de que defendemos insiste na noção de esforço, de sacrifício. É preciso
sempre um esforço, um sacrifício, para combater – e transcender – essa inércia
da imanência, essa inércia da entropia, essa inércia da mesmidade. Qualquer
modelo de ensino que não tenha isso em conta, está a nosso ver condenado ao
fracasso, por mais que isso não seja apreensível no imediato.
Eis a tese que, a nosso ver,
se deve estender aos planos social e político. Também aqui, é a cultura que
pode e deve dar um sentido maior à existência de cada um. De outro modo, cada
existência será apenas uma sobrevivência, por mais que materialmente faustosa.
Também aqui ao contrário das perspectivas mais hegemónicas da pós-modernidade,
que tendem a defender, de forma mais expressa ou subliminar, que o ser humano
se realiza sobretudo no plano material, defendemos aqui que essa realização
será sobretudo cultural.
Isso implica, desde logo, que
cada um se reconheça numa determinada comunidade histórico-cultural e que
contribua para o seu presente e o seu futuro. No nosso caso, isso implica
reconhecermo-nos não apenas como cidadãos portugueses – mera condição social e
política –, mas, mais fundamentalmente, como membros de uma comunidade
histórico-cultural cuja pertença consciente e activa dá um sentido maior à
nossa existência. Tanto mais porque, sob essa perspectiva mais funda e mais
ampla, nós já não nos afirmaremos apenas como cidadãos portugueses.
Afirmar-nos-emos, mais profunda, mais amplamente, como cidadãos lusófonos – a
nossa forma de sermos cidadãos do mundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário