Formado em Filosofia na
Faculdade de Letras da Universidade do Porto e, nos dias de hoje, docente na
Universidade de Cabo Verde, Elter Manuel Carlos é um dos mais jovens
promissores pensadores cabo-verdianos.
Esta sua colectânea de ensaios
(“Filosofia, Arte e Literatura: uma abordagem sobre a formação poética,
literária e estética do povo cabo-verdiano”) bem o atesta: fazendo plenamente
jus ao título e ao subtítulo da obra, nela podemos encontrar um pensamento que
é, de modo estrutural, pontifício.
Porque faz pontes: entre Filosofia e Literatura, entre Filosofia e Arte, entre
Filosofia e Educação.
Pontifício também porque, centrando-se na realidade cultural
cabo-verdiana, nem por isso deixa de estabelecer pontes com outras realidades
culturais, em particular com outras realidades culturais de língua portuguesa,
em prol da sedimentação de uma mesma cultura comum: uma cultura de língua
portuguesa, uma cultura lusófona, e, por isso mesmo, uma cultura plural e
polifónica.
Poderíamos acrescentar: uma
cultura mestiça e crioula. A esta luz, Cabo Verde é, de resto, um excelente
exemplo, senão mesmo o exemplo máximo, do que pode e deve ser essa nossa comum
cultura lusófona. Aparentemente perdida no Atlântico, geometricamente
equidistante entre Portugal, Brasil e o continente africano, Cabo Verde é, em
si, uma grande ponte, uma ponte oceânica. Não é por acaso que aí se sediou o
Instituto Internacional de Língua Portuguesa. Não poderia haver, com efeito,
melhor lugar para sediar a entidade a quem cabe, internacionalmente, defender e
difundir a nossa língua comum.
Por perceber tudo isso, foi
Elter Manuel Carlos oficialmente indigitado, em Junho de 2013, Coordenador do
MIL: Movimento Internacional Lusófono em Cabo Verde, onde tem feito um
excelente trabalho. Logo no mesmo ano, em Outubro, foi ele o organizador da I
Conferência Cabo-Verdiana “Filosofia, Literatura e Educação”, promovida pelo
MIL na Universidade de Cabo Verde, em parceria com esta Universidade e com o
Instituto Camões, cujas Actas foram entretanto publicadas na nossa Revista:
Nova Águia, nº 15 (1º semestre de 2015).
Sabemos que há quem pense, em
Cabo Verde e em Portugal, que este caminho da convergência lusófona – nos
planos linguístico e cultural, desde logo, mas também nos planos social,
económico e político – se deveria cumprir mais imediatamente. Nós, porém, sabemos
que isso não é possível. E por isso gostamos de dizer que este caminho não é
para sprinters mas para maratonistas.
Com sprinters não se faria qualquer
ponte ou, se se fizesse, ela cederia à primeira onda. Com maratonistas como
nós, esta rede de pontes que se estão a criar terá raízes sólidas. Ancoradas no
fundo do próprio oceano, irão abarcar e abraçar todos os países e regiões de
língua portuguesa. Este livro é mais um passo nesse caminho.
Renato Epifânio
Sem comentários:
Enviar um comentário