A encerrar o 1º Congresso da
Democracia Participativa, promovido pelo +DP no dia 20 de Setembro no ISCTE, em
Lisboa, após se ter recordado a experiência de algumas candidaturas
independentes autárquicas por todo o país e antecipado alguns cenários
políticos – de uma plataforma partidária promovida pelo Movimento Revolução
Branca a uma candidatura presidencial trans-partidária –, Paulo Morais
falou-nos dos “bloqueios do nosso sistema político”.
Insistiu, sobretudo, no
fenómeno da corrupção. Seguindo todos os eloquentes exemplos que deu, é difícil
não lhe reconhecer (toda a) razão: a corrupção tornou-se num fenómeno
sistémico. E não chega dizer que a partidocracia que temos tolera toda essa
corrupção. Muito pior do que isso: essa corrupção sistémica é o grande
sustentáculo da partidocracia que temos. Esta não vive apesar da corrupção.
Esta vive por causa da corrupção e para a manter, pois só assim se manterá.
No debate que se seguiu,
inevitavelmente surgiu a crucial questão: que fazer? Uma vez mais, do modo
desassombrado que lhe é característico, Paulo Morais enunciou todos os
cenários, inclusive o de um golpe militar. Algo que, de resto, estou convicto
que já teria acontecido se fosse outro o contexto. Em Portugal, já se fizeram
revoluções por bem menos. No presente contexto e dada a nossa inserção na
(Des)União Europeia, esse será (ainda) um cenário remoto, mas não impossível. Isto
apesar do fim do serviço militar obrigatório ter alterado a natureza da nossa classe
militar. Não por acaso, há cada vez mais gente a denunciar o erro que constituiu
essa decisão.
Idealmente, tudo deveria mudar
com um levantamento popular eleitoral. Mas aí parece-me haver um obstáculo
(quase) intransponível. É que a nossa corrupção sistémica não sustenta apenas a
partidocracia que temos. Sustenta igualmente a nossa “mediacracia”, a sua
cara-metade. Não é, de resto, fácil de perceber qual a mais corrupta e
medíocre: se a nossa classe política, se a nossa classe mediática. Tendo a julgar
que a nossa classe mediática consegue ser ainda mais corrupta e medíocre do que
a nossa classe política. Decerto, é pelo menos bem mais hipócrita, na sua
constante simulação de isenção e abertura.
Com efeito, apesar de toda essa
simulação, a nossa classe mediática defenderá até ao fim a nossa classe
política. Nem que seja por um mero instinto de sobrevivência. Tenha ou não
consciência disso, a nossa classe mediática (pres)sente que só sobrevive com a
partidocracia que temos. E por isso nada fará para a pôr realmente em causa.
Muito pelo contrário – procurará matar à nascença todo e qualquer projecto
político que a possa ameaçar. Quanto muito, aceitará novos projectos políticos
inócuos. Resta saber se o princípio de que “é preciso mudar alguma coisa para que
tudo fique na mesma” ainda mantém o seu prazo de validade. Os mais cínicos
dirão que sim. Eu, apesar de todo o meu cepticismo, julgo que não.
Aproximam-se, pois, “tempos interessantes”. Que venham de vez.
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