"Timor-Leste tem, neste momento, as datações mais antigas na ordem dos 42 mil anos em datas conhecidas para todo o sudeste asiático insular em termos de ocupação humana", afirmou o também assessor da Direção Geral de Arte e Cultura timorense e cientista convidado da Universidade da Austrália, onde tirou o doutoramento.
Segundo Nuno Vasco Oliveira, Timor-Leste tem também uma diversidade de sítios arqueológicos, incluindo uma das maiores concentrações do sudeste asiático insular de arte rupestre.
"Ao longo dos últimos 42 mil anos foram chegando e ocupando o território e gerido os recursos que aqui haviam até à chegada de povos que falavam as línguas que hoje são o grupo maioritário de línguas que se falam em Timor que são as da austronésias ou ?malai' polinésias que terão chegado há cerca de três mil 3500 anos com um conjunto de conhecimentos e técnicas culturais que anteriormente não eram conhecidos, nomeadamente a domesticação de uma série de animais", disse.
O único marsupial existente em Timor-Leste, a meda, que existe sobretudo na zona de Los Palos, na zona leste do país, está datado de há cerca de 10 mil anos.
Apesar de no ponto de vista da cultura material, nomeadamente monumentos, as várias culturas que foram passando pela ilha não terem deixado marcas, do ponto de vista científico e cultural existem "vestígios significativos", disse o arqueólogo.
Exemplos disso são o arpão esculpido em osso há cerca de 35 mil anos encontrado por uma equipa de arqueólogos australianos há cerca de três anos e um tambor da cultura Dong Son, do norte do Vietname ou da China, que marca o aparecimento dos primeiros metais em cobre e depois em bronze há cerca de 2500 anos, descoberto antes de 1999 e guardado pela comunidade.
"Tínhamos evidências através da arte rupestre e agora pela primeira vez apareceu o tampo de um tambor e sugere de facto que os objetos estão lá. São geralmente objetos importante perduram para além do seu uso específico original e são tratados como objetos sagrados para as comunidades", disse Nuno Vasco Oliveira.
Em relação ao arpão, o arqueólogo explicou que o interessante é que, segundo o registo arqueológico conhecido, "não havia fauna terrestre que justificasse uma arma daquele porte, porque aquilo seria no fundo uma lança em osso que estaria encabado num cabo grande".
"Ora nessa altura animais de grande porte verdadeiramente atestados só animais marinhos, portanto, peixes de grandes dimensões, de raiais, golfinhos que podiam passar junto à costa", disse.
Segundo o arqueólogo, as peças em ossos são muito raras e "há a discussão sobre a capacidade que os modernos humanos, ou até antes, teriam para produzir materiais daquela qualidade".
Aquele tipo de achado também é mais raro de aparecer porque é mais vulnerável às condições climatéricas e ao facto de não serem produzidos em série como os de pedra.
"Isto é um bocadinho um caldinho cultural. É uma ilha, um local de passagem, onde as pessoas foram chegando assentando arraiais, vindo dos mais variados locais. Obviamente primeiro do sudeste asiático continental e depois andando para trás e para a frente", explicou o arqueólogo.
SAPO Timor-Leste
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