A «juventude», especialmente na «adolescência»,
já é, de sua natureza, tanto de um ponto de vista psicológico, como de um ponto
de vista sociológico, uma faixa etária «para- -marginal». Não tanto por ser
eventualmente um grupo social minoritário, quantitativamente, em relação à
generalidade da população – pode até nem o ser -, mas mais por ser,
qualitativamente, uma fracção da população «ainda
não inserida socialmente», por via de regra, nos núcleos mais integrados e
integradores da sociedade e, também, fortemente dependente, psicológica
(afectiva) e economicamente. A sua «ainda
não inserção» em contextos sociais de forte «integração», ou que mais fortemente potenciam a «integração social» - o mundo do trabalho, por exemplo -, e a ausência de
vínculos sociais suficientemente «corresponsabilizantes»,
para além da família, tornam essa faixa etária um grupo (ou série diversificada
de grupos) potencialmente «marginais»
em relação à sociedade em geral e, por isso, altamente vulneráveis.
Mas essa potencial «marginalidade social juvenil» é, nos
nossos dias, potenciada e ampliada pelos sistemas educativos quase
exclusivamente «estatizados» e «massificantes» que temos. Enquanto não
forem superados, tanto o mito jacobino e revolucionário da monista e
exclusivista «Escola Pública», como
a mania socialista de tudo uniformizar e reduzir ao mesmo padrão, i. é, de uma «Escola» sobredimensionada e
sobrepovoada, mas unificada, padronizada, fortemente hierarquizada e
centralizada, inserida num modelo vertical, napoleónico e monista de escala
ainda moderno-industrial e de massas, dirigido a partir de um único centro
estatal – o que teremos será a «massificação»
e a «desumanização» da juventude e a
potenciação da sua própria «marginalidade
social», pela ausência de concretos «contextos»
e «vínculos» de
responsabilidade/responsabilização, com tudo o que acompanha essa
marginalidade.
Quanto à «Escola» propriamente dita, enquanto «cada escola» (com minúsculas)
não for concebida e vivida como uma autêntica «pequena comunidade educativa local», descentralizada, de dimensão
mínima e à escala humana, integrada em contextos sociais «locais», como uma das «pequenas comunidades de vida e de saber»,
ou «mundos-da-vida», de que fala BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, pensada e vivida
como um verdadeiro prolongamento e suporte externo da «família» e também, como esta, como uma «comunidade de afectos, de
educação e de cultura» (VITTORIO POSSENTI), com completa «autonomia» (cultural, pedagógica, programática, administrativa e
financeira), privatizada, ou não, mas apenas vinculada normativamente a um
quadro geral mínimo de matérias essenciais e de linhas programáticas gerais, em
que sejam veiculados e partilhados, participativa e afectivamente, mais do que
uma infindável lista de matérias, de saberes, de competências, de perícias e de
mestrias (como sucede actualmente), antes os valores de respeito pelo «próximo» percebido como «ser humano» e como «pessoa», da tolerância, da autonomia, da vinculação responsável,
da participação e da corresponsabilidade, pródromo para uma elevada educação
para uma «Cidadania Global» e de
civismo, bem como de respeito pelos superiores valores públicos e pela Ética –
não teremos uma juventude que se prepara para uma ulterior integração social tranquila
e para um futuro de responsabilidade.
A situação que temos não será
superada enquanto não for substituído o modelo monista, centralista,
administrativista e maioritariamente estatizado, que é o que temos, por um
modelo «concorrencial» verdadeiramente
«pluralista» e «descentralizado», i. é, por uma pluralidade horizontal e
diversificada de muitas e diferentes «escolas», como «instituições» e «pequenas
comunidades educativas locais», verdadeiramente autónomas e descentralizadas,
mas socialmente contextualizadas (a que os jovens se sintam ligados por uma
relação de «pertença») e apenas
vinculadas a um quadro normativo geral e abstracto, mínimo, e igual para todas.
Por outro lado, um «modelo concorrencial», com liberdade
programática e pedagógica para as escolas, bem como auto-responsabilidade pelo financiamento,
seria, não só factor de busca de «excelência»
por parte de cada escola, como de potenciação da «liberdade para escolher», por parte dos pais e/ou dos alunos, pelo
fomento da visibilidade e da transparência quanto à «qualidade do ensino» ministrado por cada «escola», comparativa-mente
com as outras.
VIRGÌLIO CARVALHO (Dr.).
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