Não nos orgulhemos, porém, excessivamente, do nosso circo. Apesar da sua fulgurância, todas as semanas comprovada, há outros circos que não lhe ficam atrás. Destaquemos, esta semana, o circo francês. Sim, porque em França também há palhaços, a começar por François Hollande, que, num curto espaço de tempo, conseguiu a proeza de defender em público duas posições por inteiro contrárias entre si: no discurso que assinalou o seu primeiro ano de mandato (em que bateu todos os recordes negativos de popularidade), anunciou, com toda a pompa, um “Governo Económico para a Europa”; mais recentemente, perante algumas directrizes da Comissão Europeia (sobre, precisamente, política económica), clamou pela “independência da França”, num tom de causar inveja à líder da Front Nacional, Marine Le Pen.
Bem sei que a velha (e grega) lógica aristotélica não cabe nesta nova Europa, mas não consigo apreciar tanto contorcionismo. Felizmente, há quem consiga. O jornal “Público”, por exemplo, naquela “secção das setas” que agora aparece em (quase) todos os jornais, deu a mesma seta positiva às duas posições de Hollande. Bem sei que não vale a pena, mas vou recordar o óbvio: é defensável um Governo Económico para a Europa, numa lógica mais ou menos federal, de maior integração europeia. Se esse caminho é possível (e desejável) ou não, isso é decerto discutível (eu, por mais que não acredite na exequibilidade desse caminho, reconheço que há bons argumentos em seu favor). O que, contudo, é indiscutivelmente impossível é defender mais “integração” sem menos “independência”. Pourrait comprendre cela, Monsieur Hollande?
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