A mais recente dessas falsas querelas opõe Cavaco Silva e Miguel Sousa Tavares, que se referiu ao primeiro como um “palhaço”. A querela irá agora dirimir-se em tribunal – o que, num país em que os tribunais estão literalmente soterrados, sem conseguir dar resposta em tempo útil, constitui, também literalmente, uma palhaçada.
Uma palhaçada tem sido também o debate que se tem gerado em torno desta querela, dado o empenho, de muita gente, em defender que Cavaco Silva, enquanto Presidente da República, tem sido diferente dos seus antecessores, merecendo por isso o epíteto.
Nunca tendo votado em Cavaco Silva, constato o óbvio: ele não tem sido menos isento partidariamente do que foram, por exemplo, Mário Soares e Jorge Sampaio. Por isso, sejamos coerentes e consequentes: se criticamos, como podemos e devemos criticar, Cavaco Silva por estar refém do sistema partidocrático e a dar, por isso, cobertura política a um Governo do seu partido de sempre, então estendamos a nossa crítica.
Para quem tem memória curta (e parece que são cada vez mais), Mário Soares, enquanto Presidente da República, não descansou enquanto não teve um Primeiro-Ministro do seu partido de sempre, António Guterres, e o mesmo se diga de Jorge Sampaio relativamente a José Sócrates. Não nos venham pois impingir a ideia de que Cavaco Silva é realmente diferente dos seus antecessores. Politicamente, não há a menor diferença substantiva.
Por isso, a crítica que há a fazer não é a Cavaco Silva em particular mas ao nosso sistema político, que tem impedido a eleição de um Presidente da República não refém da partidocracia. Essa é que é a questão – afirmo-o e reitero-o, acrescentando o seguinte: sou, no plano dos princípios, convictamente republicano, mas começo a perder a esperança de conseguirmos algum dia eleger um Presidente da República realmente independente dos jogos partidários. Se perder essa esperança de vez, só me resta tornar-me monárquico. Espero que isso não aconteça.
http://democracia-em-movimento.blogspot.pt/2013/05/opiniao-d-os-palhacos.html
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