Portugal está atualmente a sofrer uma situação de excepção e
de muito perigo.
É indiscutível que o atual Governo recebeu do anterior uma
situação de pré-bancarrota; sobre isso já escrevi e não há comentários de televisão que possam disfarçar a
realidade.
Porém, o atual Governo entrou de peito feito, convencido que
tinha modelos e soluções indiscutíveis, o que fez com grande arrogância.
Não conhecia bem o país e a sua economia, não conhecia a
máquina do Estado, não quis um Governo de coligação e as soluções aplicadas, de
grande sacrifício, saíram sempre falhadas a nível interno.Não soube defender os
interesses de Portugal na frente externa na questão dos prazos do acerto financeiro
e orçamental (dentro do quadro macro, há sempre questões específicas nacionais
que devem ser defendidas com muita garra; as negociações internacionais não são
jogos florais e por vezes não podemos ser apenas silenciosos alunos) e o quadro
legislativo tem estado sempre a sofrer alterações o que não dá estabilidade aos
investidores e aos cidadãos. Acresce que não há regras iguais para todos, pois,
para alguns, há sempre excepções (e não são poucos), o que cria naturais
sentimentos de injustiça e de revolta.
Privilegiou as Finanças em detrimento da Economia, quando as
duas deviam ter andado par a par; ações nas Finanças não deviam ter impedido um
grande esforço na Economia.
Acresce que quis fazer rapidamente reformas em todas as
áreas sociais e do Estado, o que não é um método de sucesso; sem querer falar
em erros de casting, aprende-se na história, na estratégia e nos manuais de
administração que não se pode actuar simultaneamente em muitas frentes, pois o
risco de descoordenação, desarticulação e de falta de meios é muito grande.
Basta lembrar que o nosso primeiro Rei, Afonso Henriques,
quis conquistar a Galiza (foi lá quatro vezes) e o Sul, então mouro. Mas nunca
combateu nas duas frentes simultaneamente; se atacava ao Norte, não fazia no
Sul e vice-versa. Falhou na Galiza, mas iniciou a reconquista do sul que
terminou com Afonso III.
Há a adicionar que o PM, que tem grandes qualidades como
cidadão, não consegue dirigir em condições o Governo perante tantas dificuldades,
teimosia e erros.
Em consequência existe instabilidade em todo o País, em
todas as atividades, em todas as classes e tipos de trabalho, já que ninguém
sabe quais são as regras do jogo, sendo que rapidamente o que é hoje verdade,
poucos dias depois é alterado.
Nestes moldes, o estado de Direito está em risco por via de
uma atuação sempre agravada (e sem resultados) das Finanças. O momento seguinte
é o do medo que já está no terreno e completamente generalizado, o que leva
todos os cidadãos normais (os que não são quadros superiores da EDP e
similares) a reduzirem, cada vez mais, os seus consumos e compras, ajudando a
agravar a situação económica. Quando era necessário consumir para ajudar a
atividade económica, ocorre o contrário.
Seguidamente vem (já cá está) a desorientação a que o Governo
não foge; está mesmo à cabeça dessa tendência.
Mas com um Governo desorientado, o País não consegue ir a
nenhum lado.
E no quadro polítco-partidário não temos alternativas
credíveis; resta-nos o Presidente da República que, independentemente do
trabalho de bastidores que deve fazer, parece uma esfinge não se conhecendo os
resultados de tal atividade.
Só há uma alternativa, a entrada em força da Sociedade
Civil, devidamente organizada.
O sistema político-partidário da III República falhou
rotundamente e tem de ser substituído; não é um desejo, é uma inevitabilidade;
de outro modo iremos desaparecer.
Terminou o período em que a Sociedade Civil deu o benefício
da dúvida a estes Partidos Políticos que
vivem em conjunto numa cápsula blindada algures na estratosfera, completamente
divorciados do País real.
É a altura da Sociedade Civil se assumir de modo integrado.Será
capaz?
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