I – Até aos anos 30.
Nascido no Porto, a 1 de Fevereiro de 1904, foi igualmente nessa cidade que José Carlos de Araújo Marinho cresceu e realizou todo o seu percurso liceal. Com apenas dezasseis anos, ingressou na Faculdade de Letras do Porto , para frequentar o curso de Filologia Românica. Aí vem a conhecer, entre outros, Agostinho da Silva , Sant’Anna Dionísio, Delfim Santos e Álvaro Ribeiro , bem como José Régio , apesar deste então frequentar a Universidade de Coimbra, e Leonardo Coimbra, de quem desde então se torna, como depois virá a escrever, “discípulo para a vida inteira”. Não obstante ter, entretanto, frequentado em simultâneo as disciplinas dos cursos de Filologia Românica e de Filosofia, optou por concluir a licenciatura em Filologia, tendo para tal apresentado uma dissertação sobre a obra de Teixeira de Pascoaes (Ensaio sobre a obra de Teixeira de Pascoaes, 1925). Já licenciado, e casado, lecciona até ao final da década de vinte em diversos liceus do Porto, altura em que redige os seus Aforismos sobre o que mais importa. Por volta de 1930, frequenta a Escola Normal Superior em Coimbra e trava conhecimento com Joaquim de Carvalho, que o convida a publicar os seus Aforismos, bem como para ser seu assistente.
II – Na morte de Leonardo Coimbra, seu “mestre para a vida inteira”.
Por insatisfação em relação à sua obra e por relutância em “subir à carreira universitária”, acaba, contudo, por recusar esse duplo convite , optando por se manter como professor liceal – primeiro em Bragança, entre os anos de 1931 e 32, depois em Faro, entre os anos de 1933 e 34, e em Viseu, entre os anos de 1934 e 37. É este o período de redacção dos seus Ensaios de Aprofundamento, alguns dos quais então publicados na Presença e na Seara Nova. Entretanto, trava uma acesa polémica com António Sérgio, do qual se vem a afastar definitivamente, e, a pedido de Leonardo Coimbra, escreve o prefácio do segundo volume do seu livro sobre a filosofia de Henri Bergson. Profundamente abalado com a morte do seu “mestre para a vida inteira”, ocorrida em 1936 , retoma ainda a redacção da sua obra O Pensamento Filosófico de Leonardo Coimbra, que só dará por terminada em 1945. Entretanto, em 1937, por ter protestado pela inclusão abusiva do seu nome num telegrama de repúdio a um atentado a Salazar, é detido por alguns meses. Para além disso, é-lhe ainda retirada a licença de ensino. Face a todas essas contrariedades, muda-se, com a família, para Lisboa, onde vem a reencontrar muitos dos seus condiscípulos da Faculdade de Letras do Porto, aos quais entretanto se tinham juntado outros nomes, como, entre outros, António Quadros, Afonso Botelho e Eudoro de Sousa .
III – Maturação da Teoria do Ser e da Verdade.
Para além das muitas traduções que, por necessidades económicas, foi fazendo, desdobra-se em múltiplos projectos – assim, entre 1937 e 43, redige a sua obra Significado e Valor da Metafísica, em que tentou, pela primeira vez, expor de forma sistemática o seu pensamento; em 1943, no rescaldo da polémica levantada pela publicação da obra O Problema da Filosofia Portuguesa, de Álvaro Ribeiro, escreve, sobre o assunto, uma série de textos; entre 1946 e 47, realiza uma série de conferências, que projectou publicar sob o título geral de Condição e Destino do Homem; ainda em 1946, por exortação de Hernâni Cidade, seu antigo professor na Faculdade de Letras do Porto, inicia a redacção da obra Nova Interpretação do Sebastianismo. Por, entretanto, ter concentrado todos os seus esforços na redacção da Teoria do Ser e da Verdade, deixa inacabada essa obra, bem como uma outra que teria o título de Misticismo e Lógica no Pensamento Português Moderno. Se exceptuarmos uma série de artigos que publicou em alguns jornais, bem como algumas conferências que realizou, toda a década de cinquenta é dedicada à redacção da Teoria. Esta, contudo, só viria a ser publicada no primeiro ano da década seguinte, e mesmo assim com a relutância do próprio autor, ainda e sempre insatisfeito com o resultado do seu trabalho.
IV – Após a publicação da Teoria.
No seguimento da publicação da Teoria do Ser e da Verdade, José Marinho é convidado, por Delfim Santos , para integrar o Centro de Estudos Pedagógicos da Fundação Calouste Gulbenkian, onde se manterá até ao seu falecimento, que se consumará no dia 5 de Agosto de 1975, após prolongada doença. Aí, para além de uma série de recensões críticas que elaborou para o respectivo “Boletim Bibliográfico”, escreve dois opúsculos que serão publicados pela própria Fundação (Elementos para uma Antropologia Situada, 1964; Filosofia – ensino ou iniciação?, 1972). É ainda com o apoio do Centro de Estudos Pedagógicos da Fundação Calouste Gulbenkian que vem a redigir a sua última grande obra, que será publicada já postumamente (Verdade, Condição e Destino no pensamento português contemporâneo, 1976). Entretanto, para além de diversos artigos que publicou em várias revistas – nomeadamente, na Colóquio, no Tempo Presente e n’ O Tempo e o Modo –, bem como de algumas comunicações realizadas, prosseguiu ainda a “viagem” da qual brotou a sua Teoria. Prova disso é a série de manuscritos que nos deixou na sua “arca”, e que, no seu conjunto, constituiriam o corpus de uma outra obra teorética, a Assumpção do Nada, a qual, na tese de Jorge Rivera, “extrema ainda o que na Teoria somente na cisão extrema se vislumbrava: o trânsito e o recurso do instantâneo ao genesíaco que conduz para além do ser, a uma excedência do horizonte ontológico”. Prova de que a “barca”, uma vez iniciada a sua “viagem”, jamais a consegue interromper.
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