O Nordeste Saudoso Comemora o Centenário de
Luiz Gonzaga
Cristina Couto
Quando o sol calcinou a terra e asa branca bateu asas e voou,
Luiz Gonzaga, filho de Januário e Santana, enfrentou a légua tirana em cima de
um pau de arara, levando dentro do seu matulão um triângulo, um gonguê, um
zabumba e, em sua memória, a rica cultura nordestina.
Sentiu-se um peixe e fez uma grande viagem imaginária pelo
Riacho do Navio, correu pro Pajeú e acabou sendo despejado no São Francisco que
desembocou no meio do mar. E num desejo de regresso aos rios nordestinos fez o
caminho inverso, nadou contra as águas e nesse grande desafio saiu, outra vez,
direitinho no Riacho do Navio para desfrutar dos costumes simples e prazerosos
do sertão.
Para rever o seu brejinho,
fazer umas caçadas, ver as pegas de boi e andar na vaquejada, mais uma vez
dormiu ao som do chocalho e acordou com a passarada e fez questão de ficar
longe da notícia, da civilização.
O Luiz apaixonado pela faceira Karolina com “K” que dançou
numa Sala de Reboco, viu quando apagaram o candeeiro e derramaram o gás, e
mostrou ao Brasil como se dança o Baião, o Xaxado e o Forró, mexendo o corpo e
alma, fazendo velho ficar moço. Não era de briga e nem de confusão, mesmo
assim, acabou um samba, no Forró de Mané Vito.
Luiz Gonzaga cantou os mitos e as superstições nordestinas,
nossas experiências com o tempo e suas modificações climáticas. Ao ouvir o
canto da Ema chamou sua morena para acabar com seu medo, pois a Ema traz no
meio do seu canto um bocado de azar, principalmente se ela canta no tronco da
Jurema, ao ouvir o Vim-vim cantar sabia que alguém estava pra chegar, como
chegou o amor no coração das meninas num xote feito para elas.
Em meados de 1950, foi chofer de táxi e descreve um Rio de
Janeiro urbanizado, modernizado e acolhedor, utilizando o mapa cartográfico da
sua menta, faz o trajeto de Mangaratiba ao Leblon, achou pouco e anos depois, em
sonho, atravessou o mundo e foi parar em Moscou para dançar um Pagode Russo, pois
no Rio tudo estava mudado na noite de São João.
O que seria do Nordeste se não tivesse Luiz, que não
respeitou Januário, que dividiu a vida e o palco com seu filho Gonzaguinha, que
cantou o Juazeiro, que se tornou o Rei do Baião e ficou na memória do seu povo.
Em 2012, ano do centenário de Gonzagão, seu forró não é mais
o mesmo. O ritmo que se tornou por ele conhecido, em nada se parece com sua
forma original. Nem o forró, nem o baião e nem as noites de São João no seu
saudoso Sertão. Tudo está modificado, porque tudo muda sobre a terra.
Obrigada, Luiz! Eterno Rei do Baião e Cantador do Sertão.