A Era da Globalização tem
moderado a importância dos sentimentos patrióticos. Se é certo que os
excessivos entusiasmos nacionalistas estiveram na origem direta das duas
Guerras Mundiais (1914 e 1939), também não é menos verdade que a Globalização,
por efeito da uniformização cultural, tem gerado sociedades despojadas de
genuínas identidades coletivas. A demonstração da veracidade desta afirmação
reside na dificuldade que a União Europeia encontrou ao tentar estabelecer uma
Constituição, mais tarde designada de Tratado Constitucional, para não ferir a
sensibilidade dos céticos da estratégia Federalista.
Foi a perceção da pertença a um
mesmo espaço geográfico que deu forma aos sentimentos patrióticos que se foram
moldando em identidades coletivas construídas com base nas línguas e nas
culturas nacionais. Na conjuntura do Romantismo Oitocentista, as nações do
mundo valorizaram este sentimento e a busca das raízes históricas que
justificavam o orgulho patriótico. Em Portugal teve particular relevância,
nesta investigação, o historiador Alexandre Herculano. Foi na degenerescência
desta dinâmica histórica que os patriotismos se transmutaram em aguerridos
nacionalismos que potenciaram as conflitualidades bélicas e as ditaduras de
matriz nacionalista (Itália, Espanha,
Alemanha, Portugal, etc.) na primeira metade do século XX.
Na realidade, os nacionalismos
condicionaram as políticas dos países, através de visões de Estados
autoritários, desenvolvendo acrescidos poderes nacionais. Assim, de sentimentos
genuínos de defesa e de enaltecimento dos valores das pátrias passou-se,
abusivamente, a sentimentos xenófobos, que deturparam os saudáveis sentimentos
patrióticos. Em Portugal, por exemplo, estes sentimentos floresceram com uma
elevada consciência cívica e cultural no movimento da “Renascença Portuguesa”,
no contexto da 1ª República. Historiadores como Damião Peres e, mais
recentemente, José Mattoso procuraram perceber o gérmen que tornou possível a
formação da pátria portuguesa no século XII.
Desde o fim do regime da
Monarquia Constitucional que se celebra o
espírito patriótico em Portugal.
O dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, que se celebra todos os anos a
10 de junho, é um momento para se celebrar, com orgulho, o facto de se ser
português. Apesar de, na atualidade, os países latinos serem amesquinhados, em
particular pelo paradigma de crescimento material, por serem pouco produtivos e
competitivos, não nos podemos esquecer que o trilho seguido pelas sociedades
contemporâneas tem sido a crescente falta de harmonia entre o crescimento
económico e o desenvolvimento integral dos povos e dos indivíduos, como o
denunciava e com muita pertinência o Concílio do Vaticano II na sua
Constituição “Gaudium et spes” (Alegrias e esperanças).
.
Há figuras que, pela sua projeção
internacional, se tornaram símbolos da pátria portuguesa e da pátria lusófona.
São exemplos significativos: Luís Vaz de Camões, Fernando Pessoa, Eusébio da
Silva Ferreira, Cristiano Ronaldo, José Mourinho, António Damásio, Amália
Rodrigues e Mário Soares. Com efeito, são personalidades que, em função do
prestígio nas suas áreas de atuação, se tornaram reconhecidos no mundo global.
No contexto da crise da
Globalização, do início do século XXI, os jogos da Seleção Portuguesa têm sido
um fator que vêm despertando o sentimento patriótico, além de permitirem
ultrapassar a mentalidade pessimista dos portugueses que sempre se patenteou
numa fraca autoestima nacional fazendo-nos exagerar os atributos dos estrangeiros.
A mística lançada por Luís Filipe Scolari, selecionador português no Europeu de
Futebol de 2004, galvanizou os portugueses para o enaltecimento do amor à
pátria com bandeiras nacionais penduradas por todo o país, do interior ao
litoral, do sul ao norte. O momento em que se canta o hino nacional nos jogos
de futebol da Seleção ou quando o ouvimos em provas Olímpicas são das poucas
manifestações atuais do sentimento patriótico.
Na Era da Globalização, e com
base em fundamentos intelectuais e sentimentais lançados por Jaime Cortesão e
Agostinho da Silva, nasceu o conceito de pátria lusófona. que teremos
oportunidade de desenvolver no colóquio “
Jaime Cortesão e a Arrábida”, inserido no II Ciclo de Estudos de Homenagem a António Telmo, que se realizará
a 30 de junho de 2012 (sábado) na Biblioteca Municipal de Sesimbra.
Nuno Sotto
Mayor Ferrão
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