Dimas Macedo
Mestre em Direito e Professor da UFC
A política, que é a latitude
máxima da ação humana, em busca de um fim social, e de uma práxis civil e
emancipadora, corre em todas as sociedades qual rastilho de pólvora. Não há
como deter a sua força, a sua energia dadivosa, o seu poder absoluto de
envolvimento e de transformação.
Não
podemos pensar em qualquer forma de sociedade sem que nela não esteja presente
o exercício da política. A política é o que é, existe porque tem que existir. É
a espinha dorsal e a coluna vertebral do Estado, do município, do poder
político de uma forma geral.
Claro
que a política não se submete aos limites da ética, porque a conquista do poder
e a sua manutenção constituem, com certeza, um campo de guerra e não tem como
ser diferente. Mas é claro que ela pode ser limitada pelas regras do Direito e
pelas aspirações de Segurança que rondam o
habitat da vida social.
Em
face das conquistas da técnica e da clarificação das consciências, penso que,
nos dias de hoje, a política poderia ser um pouco diferente. Deveria estar
prioritariamente voltada para o homem, para as suas necessidades e para a
superação das misérias sociais, que desafiam a paz A
política, infelizmente, virou uma grande equação capitalista: transformou-se em
patrimônio material de uns e em forma de extorsão com que outros se mantêm no
poder, roubando os cofres da Administração, assaltando a partilha do orçamento,
transformando tudo em uma mesa de jogo da corrupção e do desvio de recursos.
Após os avanços da globalização
econômica, especialmente a partir da década de 1990, o capitalismo e os seus
valores de ordem financeira foram assaltando, gradativamente, a máquina do Estado.
O mercado substituiu a política e os
intelectuais foram expulsos do espaço público, porque a equação capitalista não
precisa de ideias, mas de pessoas dóceis à sua sedução material.
O capitalismo, como sabemos,
abomina qualquer discussão de ideias que não seja em proveito da sua utilidade,
e que não seja a favor dos monopólios de todos os setores da vida; e a
ideologia de ordem econômica e monetária passou a ser, ao que parece, a
religião oficial do planeta.
A cultura, a arte e a educação, que
são bases primordiais do humanismo, vêm sendo ultrapassadas, de último, pelos
valores da tecnologia; a preparação técnica das pessoas assumiu o lugar da sua
formação, do seu aprendizado sistemático e da sua capacidade de interação com
os seus semelhantes; e a defesa da Ética e dos Direitos Humanos igualmente vem
perdendo o seu lugar nessa nova forma de sociedade, calculadamente fria e
esquisita.
Grande parte das pessoas, hoje,
sucumbiu à sedução do consumo, e trocou sua alma pela exibição do seu ego.
Muitos não estão nos espaços midiáticos da web
porque fizeram alguma coisa de proveito no mundo, mas porque desejam promover
as suas fantasias.
Assusta observar, por outro lado,
que o homem perdeu a sua condição de reagir, de se indignar, de denunciar os
desmandos da classe política, e de ocupar as ruas e as praças para reivindicar
os seus direitos.
Os que se julgam acima do bem e da verdade,
decretaram a morte dos princípios, como se fosse possível convencer os
semelhantes com o barulho de suas teses enfadonhas.
A completa conivência de muitos
chefes de Estado, e assim também do último governo do Brasil, para com a
mentira e a falsificação da verdade, e para com aqueles que já estão cansados
de mandar, tais os exemplos de Fernando Color, Renan Calheiros e José Sarney,
são situações que estão, por outro lado, a desafiar a paciência das pessoas.
No caso específico do Brasil, a
busca da justiça social e o resgate da política enquanto vocação parece que não
são, decididamente, valores que agradam aos integrantes da classe dirigente.
E o povo, sempre alimentado de
muitas ilusões, se acostumou demais com a mentira e com as esmolas que lhe são
destinadas pelas autoridades que estão de plantão, e não desconfia sequer das
intenções dos que estão no centro do poder.
Parece ser mesmo doloroso, para os homens de
boa vontade, e para os que lutam pela ética e a dignidade, assistir a ascensão
de pessoas despreparadas e gananciosas para a representação parlamentar, e para
os postos de comando da máquina do Estado.
A
política não constitui um fim, e o exercício da política, como sabemos, é uma
vocação. Não é um patrimônio que se transmite por herança para os apaniguados
do poder. A política é uma missão e exige de quem a ela se entrega um
compromisso integral e efetivo para com as exigências da vida coletiva.
No Brasil, infelizmente, a maioria
dos políticos ainda não despertou para a grave questão do ambiente e o povo
ainda não se sente motivado para os desafios da educação ambiental, o que é
lamentável, e a consequência de tudo será a transmissão, para as gerações
futuras, dessa conduta irresponsável.
Essa perversão em que a hegemonia da
política foi transformada, é a causa da violência social e da violência
simbólica que nos cercam; é a causa da proliferação das drogas e das
deformações que atacam as novas gerações, e entorpecem a mente dos que gravitam
ao redor da máquina do poder.
Parece mesmo que existe uma desordem no
cosmos, causada pela perversão em que se transformou a política, pois a
sinfonia planetária, que há séculos encantava a audiência humana, hoje se
encontra ameaçada. Empresários
inescrupulosos e políticos de visão mesquinha têm feito da ganância e da
especulação instrumentos de violação da paz e do equilíbrio da vida em
sociedade.
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