Sim, essa é uma excelente definição. Pugna, no essencial, por uma viragem geostratégica de Portugal: passar da aposta exclusiva na União Europeia, que se tem revelado cada vez mais suicidária, para a progressiva convergência lusófona, apostando no reforço gradual dos laços – no plano cultural, mas também social, económico e político – com os restantes países e regiões do espaço da lusofonia. Estamos convictos que esse é o caminho que melhor garante o futuro de Portugal (bem como o futuro dos restantes países e regiões do espaço lusófono), mesmo que Portugal continue na União Europeia. Premissa cada vez menos certa: Portugal colocou-se numa situação de tal modo humilhante que corremos o sério de risco de sermos enxotados da União Europeia. E de nada nos vale o nosso passado, como se está a ver com a Grécia…
Em Dezembro de 2010 os governos de Timor-leste e do Brasil ofereceram-se para financiar Portugal a juros mais baixos que o FMI, não teria sido uma alternativa mais viável? Na sua opinião, porque ignorou Portugal esta opção?
Julgamos e, na altura, defendemos isso mesmo. O que se passa é que, em Portugal, há ainda muita gente com complexos de ex-colonizador: não só na classe política como na classe mediática. Essa gente prefere que Portugal fique numa posição subalterna em relação aos restantes países europeus do que numa posição de paridade relativamente aos restantes países lusófonos. Preferimos mendigar nas cimeiras europeias do que negociar, olhos nos olhos, com os países irmãos lusófonos… Em parte, percebo: aceitar essa viragem geostratégica seria reconhecer o falhanço, cada vez mais evidente, dessa aposta exclusiva na União Europeia, que nos fez voltar as costas a todo o espaço lusófono. Ora, essa aposta é da responsabilidade de muitas pessoas: de quase toda a nossa classe política e mediática. Daí, também, a fuga em frente que agora alguns prefiguram, falando, de novo, no “federalismo europeu”. É tempo de acabar com essa farsa: faz sentido haver um espaço económico na Europa; não faz nem nunca fez sentido falar de uma União Política. Apenas para dar um exemplo: nunca poderá haver na Europa uma política externa realmente comum. A menos que todos os países abdicassem por inteiro dos seus interesses geostratégicos. É verdade que Portugal o fez. Mas apenas fez figura de tolo. Suicidámo-nos. Agora importa recomeçar de novo, virando a página. Passam em 2012 cem anos sobre a criação do movimento da “Renascença Portuguesa”. Cem anos depois, o MIL defende uma nova Renascença, agora a uma escala maior – não apenas portuguesa, mas lusófona.
Estaremos perante uma europeização forçada de Portugal? Digo isto recordando as palavras de Martin Schulz acerca da aproximação do actual governo a Angola ser um “perigo social” e “o declínio” do futuro de Portugal.
Do que me lembro, quando ouço essas e outras declarações, é da reacção gerada pelo Ultimato Inglês. Na altura, houve todo um povo a reagir, a começar pelos maiores intelectuais da época. Hoje, Portugal é sucessivamente humilhado por reiterados Ultimatos e já quase ninguém reage… Batemos, de facto, no fundo. Mas isso só nos dá maior energia para apostarmos neste caminho de convergência lusófona, a realizar, como é óbvio, numa base de liberdade e de fraternidade. Julgamos que, a médio-longo prazo, essa comunidade lusófona pode ser até um espaço exemplar à escala global: no que toca ao respeito pelos direitos humanos e sociais, no respeito pela Natureza, fomentando uma outra forma de economia, mais justa. Em convergência, esse futuro espaço lusófono pode ser perfeitamente auto-sustentável. Há, inclusive, um potencial económico que ainda não foi, de todo, equacionado. Quando o vier a ser, verificar-se-á que este é um caminho benéfico para todos.
No advento de uma União Lusófona, terá Portugal condições para ocupar uma posição crucial na sua criação, ou veremos o Brasil como principal impulsionador?
Naturalmente que o Brasil será, à escala global, o principal impulsionador desse caminho da convergência lusófona. Devemos reconhecê-lo sem quaisquer complexos. Devemos até reconhecê-lo com orgulho. A criação do Brasil foi a página mais gloriosa dos nossos Descobrimentos. Para mais, como sempre defendeu Agostinho da Silva, o principal inspirador do MIL, Portugal deve manter uma relação privilegiada com o Brasil. Não obstante todos os seus problemas sociais, o Brasil continua a ser um dos melhores exemplos, à escala global, do que deve ser uma sociedade multirracial, uma sociedade lusofonamente multicolor. Um exemplo a seguir por todos nós – a seguir também em Portugal. Como costumo dizer, o racismo, no nosso caso, não é apenas estúpido – é também anti-patriótico, porque anti-lusófono.
Como director e fundador da “Nova Águia”, revista que tem inspirado a criação de outros projectos, como a “Finis Mundi”, considera que estaremos, finalmente, a testemunhar o renascimento do pensamento português?
Julgo que há uma nova geração que, em Portugal, não vive complexada com os fantasmas do passado. No que toca à “Nova Águia”, isso passa por valorizarmos a nossa tradição filosófica e cultural, sem quaisquer complexos. Se outros países, com tradições menos ricas, sempre o fizeram, porque não haveria Portugal de o fazer? Também aqui, chegou a altura de virar a página. A “Nova Águia”, como a “Finis Mundi”, bem como outros projectos, são um excelente sinal de que, apesar de tudo, há motivos para ter esperança. Algo está a mudar. E na direcção certa.
Finda a ilusão da Europa, uma lusofonia geopolítica será mais fruto da opção ou da necessidade?
Quando só há uma única opção, essa torna-se a opção necessária… Apenas lamentamos que tenhamos tido que bater tão fundo para só agora reconhecermos isso mesmo. Toda a gente agora diz, por exemplo, que foi um erro termos destruído, em nome da integração europeia, grande parte da nossa agricultura e das nossas pescas. Vale mais tarde do que nunca. Mas, obviamente, se não tivéssemos cometido esse erro, a par de muitos outros, estaríamos agora numa situação muito mais favorável… Em qualquer caso, o MIL não nasceu para fazer ajustes de contas com o passado. Nós somos um Movimento virado para o futuro. Queremos ser os porta-vozes de uma nova geração que acredita ainda que Portugal não acabou de vez. Acreditamos mesmo que Portugal tem futuro – assim aposte, cada vez mais, na convergência lusófona.
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