1. Cumpre-me, em primeiro lugar, agradecer à Sociedade de Geografia de Lisboa, na pessoa do seu Presidente, Professor Luís Aires Barros, o ter aceite ser a anfitriã desta Cerimónia – o da entrega do Prémio Personalidade Lusófona do Ano 2011, prémio promovido pelo MIL: Movimento Internacional Lusófono, no âmbito do X Encontro da PASC: Plataforma Activa da Sociedade Civil, sobre a “Importância da Lusofonia”.
2. Registado a 15 de Outubro de 2010, o MIL nasceu informalmente no início de 2008, ainda na esteira das Comemorações do Centenário de Nascimento Agostinho da Silva, que decorreram por todo o ano de 2006 e por boa parte do ano de 2007. Tiveram essas Comemorações uma projecção lusófona, não apenas nacional e, ao longo delas, gerou-se uma dinâmica que o MIL procurou ampliar e aprofundar, o que temos notoriamente conseguido.
De então para cá, muita gente juntou-se a nós. O MIL agrega já mais de 10 milhares de aderentes – não apenas de todos os países da CPLP, como também de outras regiões que, a nosso ver, fazem parte do espaço lusófono. Todos esses países e regiões estão, de resto, representados nos nossos órgãos – desde logo, no nosso Conselho Consultivo.
Temos também a honra de ter como sócios honorários algumas da mais relevantes personalidades da nossa sociedade civil: Abel de Lacerda Botelho, Adriano Moreira, Amadeu Carvalho Homem, António Braz Teixeira, António Carlos Carvalho, António Gentil Martins, Dalila Pereira da Costa, Elsa Rodrigues dos Santos, Fernando Nobre, Fernando dos Santos Neves, João Bigotte Chorão, João Ferreira, José Hermano Saraiva, José Manuel Anes, Lauro Moreira, Manuel Ferreira Patrício, Pinharanda Gomes e Ximenes Belo.
Cada vez mais, o MIL tem agregado pessoas de todo o espaço lusófono. Desde logo, porque há um reconhecimento cada vez maior da importância estratégica da convergência lusófona, Horizonte maior do MIL. Vivemos um tempo de viragem histórica, em que os vários povos da lusofonia começam a compreender os benefícios desse caminho comum, passadas que estão de vez algumas páginas historicamente mais traumáticas. Daí a sintonia temporal, senão mesmo geracional, do MIL. O MIL nasceu no tempo certo.
Obviamente, isso, por si só, não seria suficiente. Se cada vez mais pessoas têm aderido a este movimento cultural e cívico é porque reconhecem em nós, para além de tudo o mais, credibilidade e coerência. Isso é, de resto, o que desde logo ressalta no histórico das nossas posições, uma extrema coerência entre todas as posições tomadas. Em todas elas, de uma forma ou de outra, está, com efeito, presente o que nos move: promover o reforço dos laços entre os países e regiões do espaço da lusofonia, no plano cultural, mas também social, económico e político (conforme se pode comprovar no nosso livro recém editado: Convergência Lusófona).
O MIL, de facto, sempre teve essa marca distintiva. Não se detém no plano estritamente cultural, mas age também no plano social, económico e político, já que, para nós, o potencial da convergência lusófona desdobra-se nesses vários planos. Daí, cumulativamente, o duplo enfoque das nossas propostas: ora relativas a todo o espaço lusófono em geral, ora centradas na realidade cultural, social, económica e política de cada um dos países e regiões do espaço da lusofonia, procurando sempre, numa primeira instância, dar voz às pessoas e/ou instituições de cada um desses países e regiões, voz a que depois o MIL tem dado o devido eco.
Daí também as parcerias que temos estabelecido com múltiplas entidades – com as quais temos tomado posições conjuntas e promovido muitas outras iniciativas, nomeadamente o envio regular de vários milhares de livros para alguns países lusófonos. A esse respeito, recordamos uma das nossas iniciativas que teve, no imediato, mais consequências: a Petição “Não destruam os livros!”, que levou o Governo Português a tomar medidas concretas no sentido de que os livros sem escoamento comercial não fossem destruídos em grande escala, mas, ao invés, fossem enviados para os países lusófonos que mais carecidos estão nesse plano. Também aqui o desígnio estratégico da convergência lusófona vai deixando, cada vez mais, de ser uma mera figura retórica.
Temos consciência que nem todas as nossas propostas poderão ser imediatamente concretizadas – somos os primeiros a reconhecê-lo. Mas os caminhos, por mais longos que sejam, só valem a pena se visarem um Horizonte maior. Por isso não esmoreceremos nem, jamais, desistiremos. Prosseguiremos o nosso Caminho… A esse respeito, uma palavra de agradecimento a todas as pessoas que têm dado o seu contributo para este Caminho: aos meus colegas da Direcção do MIL, desde logo ao Rui Martins, Vice-Presidente, presente desde o início, aos actuais membros dos restantes órgãos e àqueles que no passado os integraram. Se chegámos aqui, foi com o contributo de todos Vós. Obrigado por isso.
3. No passado, homenageámos o ex-Embaixador do Brasil na CPLP, Lauro Moreira e o Bispo D. Carlos Ximenes Belo – nos dois casos, por todo o seu distinto trabalho em prol da Lusofonia, da Convergência Lusófona. Hoje, estamos aqui para homenagear o Professor Adriano Moreira como Personalidade Lusófona do ano de 2011.
Os critérios para a atribuição deste Prémio não são rígidos. Em 2009, atribuímos o Prémio ao Embaixador Lauro Moreira desde logo por uma questão de oportunidade – ele iria reformar-se em breve, e quisemos homenagear toda a sua carreira, em particular enquanto Embaixador do Brasil na CPLP, onde fez um trabalho reconhecidamente notável.
Também não foi por acaso que o primeiro Prémio foi atribuído a um brasileiro – quisemos com isso assinalar a importância do Brasil à escala global. Sem complexos de qualquer espécie, reconhecemos que, a essa escala, o Brasil será necessariamente a locomotiva maior desse caminho ainda, em grande medida, por se cumprir: o caminho da convergência lusófona, mais do que isso, o caminho da criação de uma verdadeira comunidade lusófona.
Depois, também não foi por acaso que o premiado seguinte tenha sido um timorense: D. Carlos Ximenes Belo. Como na atribuição do Prémio nós próprios dissemos:
«Fazemo-lo não, decerto, por ele ser sócio honorário do MIL – apesar disso nos honrar muito. Também não o fazemos por razões religiosas – já que o MIL não está ligado a nenhuma Igreja, como a nenhum Partido Político. Fazemo-lo, numa palavra, porque ele é, decerto, uma das figuras que melhor personifica o próprio povo timorense – na sua resistência à ocupação indonésia e na sua consequente libertação. Com efeito, a par da resistência armada, a Igreja timorense foi o grande esteio da resistência espiritual e cultural a essa mesma ocupação indonésia, a grande responsável por Timor-Leste ter permanecido um país lusófono. Isto mesmo depois da libertação, da independência. Como todos sabemos, houve muitas vozes a defenderem que Timor-Leste teria mais futuro no espaço anglófono. E porventura teria, imediatamente – pelo menos, do ponto de vista material. Mas, do outro lado, houve ainda mais vozes a defenderem que o futuro de Timor-Leste só poderia estar no espaço lusófono, a defenderem que Timor-Leste será um país lusófono ou não será… Uma dessas vozes, porventura a mais audível, foi, decerto, a do Bispo D. Carlos Ximenes Belo. Por isso hoje homenageamos. Timor-Leste poderia já não ser hoje um país lusófono – e se tivesse optado por essa via, ninguém em Portugal poderia reclamar – depois de termos abandonado Timor-Leste à sua sorte na descolonização, não defendendo devidamente, como era nossa obrigação, esse território face à eminente ocupação indonésia, que depois se veio a concretizar, com as consequências trágicas que muitos procuraram escamotear mas que nós não esquecemos. Também por isso homenageamos o Bispo D. Carlos Ximenes Belo e, na sua pessoa, todo o Povo Timorense.».
4. Tendo sido ambas primeiras escolhas, não deixámos de equacionar eventuais alternativas. O mesmo não aconteceu, contudo, este ano. Como podem testemunhar os meus colegas de Direcção do MIL, tendo nós decidido que, este ano, iríamos homenagear um português, o Professor Adriano Moreira emergiu imediatamente como a primeira e única escolha.
Decerto, o Professor Adriano Moreira não é o único português com currículo em prol da convergência lusófona. Felizmente, há muita gente – diria até: há cada mais gente – com currículo nessa área. Na nossa perspectiva, porém, o Professor Adriano Moreira é o português com maior e melhor currículo em prol da convergência lusófona que o MIL tanto defende.
Já antes de 25 de Abril de 1974, como todos sabemos, o Professor Adriano Moreira procurou dar passos – inclusive no plano político – para a criação de uma verdadeira Comunidade de Estados Lusófonos, como já era então (desde os anos 50) defendido por Agostinho da Silva – personalidade que mais inspira o MIL e que o Professor Adriano Moreira conheceu e ajudou – nomeadamente, na criação, no anos 60, do Centro de Estudos Portugueses da Universidade de Brasília, que ainda hoje existe.
Como o próprio Agostinho da Silva na altura lamentou, a Revolução de 25 de Abril de 1974 foi uma oportunidade perdida para a criação de uma verdadeira Comunidade de Estados Lusófonos. A forma, muito pouco exemplar, como se processou, em geral, a descolonização acabou por ser, de resto, um entrave a esse desiderato. Parecia que, a partir daí, os povos lusófonos passariam para sempre a viver de costas voltadas.
Foi assim que, durante décadas, Portugal voltou costas a todo o espaço lusófono e apostou tudo na integração europeia, enquanto grande desígnio nacional. O erro de tal aposta tornou-se entretanto evidente. Em virtude de tal erro, de tal colossal erro, Portugal é hoje um país fortemente diminuído na sua autonomia e sustentabilidade. Em virtude de tal erro, de tal colossal erro, Portugal é hoje um país que não sabe sequer se terá futuro. Em virtude de tal erro, de tal colossal erro, Portugal é hoje um país que não honra o seu passado.
Face a isto, há dois caminhos: ou desistir, ou persistir, por mais remota que seja a esperança. O Professor Adriano Moreira podia, há muito, ter desistido. Não o fez, nunca o fez, contudo. Logo que pôde, regressou a Portugal e procurou fazer o que não havia conseguido antes de 1974. Podia ter ficado legitimamente ressentido, como muitas pessoas da sua geração. Podia ter perdido completamente a esperança em Portugal, como acontece até com muitos jovens – decerto, um dos indicadores mais sombrios da crise em que vivemos.
A Homenagem que hoje fazemos ao Professor Adriano Moreira é, pois, no essencial, à pessoa que nunca desistiu, que continua a ter esperança em Portugal e que considera que o futuro do nosso país passa, cada vez mais, pela convergência com os restantes países e regiões do espaço lusófono. Esse deve ser o nosso grande desígnio nacional. Não será, decerto, a panaceia para todos os nossos males, mas é, inegavelmente, o único caminho que mais e melhor garante um futuro sustentado para Portugal. É triste que tenhamos tido que bater tão fundo para só agora percebermos isso – bastava termos ouvido, em tempo útil, algumas vozes que anteciparam o (agora) óbvio para todos; bastava termos ouvido, em tempo útil, o Professor Adriano Moreira.
Temos plena consciência de que este Prémio pouco acrescenta ao currículo do Professor Adriano Moreira. O Professor Adriano Moreira honra muito mais o MIL ao ter aceite recebê-lo do que o MIL honra o Professor Adriano Moreira ao ter decidido entregar-lho. Quanto muito, o MIL honra-se a si próprio por ter feito esta escolha – entretanto ratificada pelo nosso Conselho Consultivo, constituído por 80 elementos (representativos de todos os países e regiões do espaço da lusofonia). Agradecemos-lhe muito, pois, todo o apoio que, generosamente, desde sempre, tem dado ao MIL e, agora, o ter aceite este Prémio que lhe atribuímos.
Renato Epifânio
Sem comentários:
Enviar um comentário